sábado, 5 de setembro de 2015

SARGENTO E HISTORIADOR CÉLIO PEREIRA APRESENTA SUA PESQUISA “HISTÓRIA, CRIME E LITERATURA EM DONA GUIDINHA DO POÇO” NO 54ª PAPO CULTURAL

No último dia 28 de agosto, o Papo Cultural recebeu na sua 54ª edição o sargento e historiador Francisco Célio do Nascimento Pereira que apresentou sua pesquisa monográfica de graduação em história na UECE-FECLESC- Quixadá, que tem como titilo “História, Crime e Literatura em Dona Guidinha do Poço”: (Quixeramobim – 1853).

Ao iniciar sua apresentação Célio teceu considerações gerais falando sobre os rumos que a pesquisa tomou e da satisfação em poder apresentar seu trabalho de conclusão de curso. Em seguida fez um relato sobre o crime cometido a mando de Marica Lessa (segundo relatos mandou matar seu esposo) destacando a ligação entre a história real e os personagens trabalhados por Oliveira Paiva um dos escritores que dissertam sobre o fato ocorrido em Quixeramobim, um crime de morte na segunda metade do século de XIX e que inspirou o escritor.
Oliveira Paiva que era escritor, abolicionista, contista e poeta vem a Quixeramobim para tratar de tuberculose tem contato com arquivos relativos ao fato e resolve o romancear dando origem a um dos livros regionalistas mais importantes do século XX.

Durante a apresentação de seu trabalho Célio discorre de forma muito convincente sobre a importância que tem a literatura para a história e como ela está muito inserida na nossa região sendo fonte de vários escritos. As características sertanejas da região, os problemas vividos, o cotidiano de seus moradores da época foi muito bem retratado a partir do seu trabalho e das várias obras que o mesmo teve acesso e citou muitos deles clássicos da literatura brasileira regionalista.

Um fato muito interessante do seu trabalho foi como o mesmo conseguiu no decorrer de sua pesquisa mapear toda a odisseia que a publicação de um livro totalmente despedaçado como um quebra cabeças, mas teve uma compilação devido a insistência de outros escritores importantes como Antonio Sales, José Veríssimo, Lúcia Miguel Pereira e Rui Facó.
Todo esse trabalho segundo Célio fez com que em 1952 fosse publicado primeira edição pela Editora Saraiva tornando-se um Best-seller.

Outro personagem importante nesse trabalho segundo Célio foi o Escritor Ismael Pordeus um dos primeiros a fazer a ligação do romance com o fato ocorrido. Ele encontra a obra de Oliveira Paiva e se interessa pelo livro e rapidamente liga ao fato ocorrido em Quixeramobim na metade do século XIX.

Após a apresentação do Historiador Célio a palavra foi facultada aos presentes que fizeram várias intervenções destacando a importância do trabalho que traz tantas informações para conhecemos não só nossa história, mas acima de tudo faz um convite a nos embrenharmos na literatura nordestina tão carregada de nós mesmos.
Ao final Célio fez sorteio de alguns exemplares do livro Dona Guidinha do Poço entre os presentes. E depois recebeu uma menção honrosa da Ong. Iphanaq das mãos de seu amigo Edmilson Nascimento.

Ailton Brasil – historiador e presidente da Ong. Iphanaq
Fotos: Edmilson Nascimento

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CINECLUBE IPHANAQ RETORNA A NENELÂNDIA COM MAIS UMA EXIBIÇÃO NA ESCOLA

No dia 21 de agosto, o cineclube esteve mais uma vez na Escola Francisco Carneiro Sobrinho, em Nenelândia, realizando exibição de cinema naquela comunidade. Na ocasião, foi exibido o filme “Bezerra de Menezes - o diário de um espírito” [ Direção Gláuber Filho e Joel Pimentel]. Antes, foi apresentado o documentário “A bola, o trem e o rádio”, de Elistênio Alves. O referido documentário tem como protagonista principal o radialista e plantonista esportivo Viana Filho. Após a exibição, Elistênio Alves, que estava presente ao evento, teceu alguns comentários sobre a produção do seu filme.

Já o filme Bezerra de Menezes – o diário de um espírito apresenta a vida do personagem, que começa em 1831, na localidade de Riacho do Sangue, hoje município de Solonópole - Ceará. No universo sertanejo, Bezerra de Menezes forjou seu caráter e, aos 18 anos, inicia no Rio de Janeiro seus estudos de medicina. Na Capital da República à época, foi um grande abolicionista e elegeu-se vereador e deputado, por várias legislaturas. Porém, o trabalho anônimo em favor dos mais humildes foi que lhe trouxe o maior reconhecimento de seu povo, que o chamava Médico dos Pobres.
Sua trajetória foi marcada pelo amor e pela caridade. Seja como político devotado às causas humanitárias ou como o médico conhecido por jamais negar socorro a quem batesse à sua porta. Um exemplo de homem que fez da sua vida um meio de servir ao próximo e à sua pátria.

"O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O que não atende por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou tempo, ficar longe, ou no morro; o que, sobretudo pede um carro a quem não tem como pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros os gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda, para outro, o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida". (Bezerra de Menezes)
Segundo a professora Idalina Reis, toda vez que o cineclube retorna à comunidade e oportuniza os alunos da escola participação na exibição, só tem somado para que os jovens compreendam dentro de uma proposta pedagógica o quando o cinema pode contribuir para sua formação cidadã e para uma leitura crítica da realidade.
O projeto cineclube é uma realização da ONG Iphanaq, com o apoio cultural do SESC-Ler e do Sistema Maior de Comunicação. O Projeto realiza, mensalmente, exibição de cinema nacional gratuito nas comunidades do município de Quixeramobim.

Neto Camorim – Coordenador do Cineclube Iphanaq
Elistênio Alves – Fotos

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

NETO CAMORIM APRESENTA RELATO DE SUA 2ª EXPEDIÇÃO A CANUDOS E AO SERTÃO BAIANO NO 53º PAPO CULTURAL

No último dia 07 de agosto o historiador Neto Camorim apresentou na Casa de Antonio Conselheiro um relato de sua segunda expedição a Canudos e ao sertão baiano no 53º Papo Cultural. Além do bate papo sobre a viagem, o historiador mostrou algumas fotos dos percursos por onde andou.

A seguir um breve relato realizado pelo historiador Neto Camorim de suas andanças pelo sertão baiano.

Minha segunda expedição a Canudos e ao sertão baiano
Pelo segundo ano consecutivo no período de minhas férias visito os sertões da Canudos e região vizinho do nordeste baiano. Este ano a viagem aconteceu de 16 a 29 de julho. Foram dias intensos de muito aprendizado, reencontros, novas amizades, pesquisas e lazer, pois ninguém é de ferro. É bom lembrar que eu estava de férias e precisava também aproveitar esses momentos nessa terra mística, encantadora e acolhedora que é Canudos.

Essa segunda expedição em solo baiano iniciou no dia 16 de julho em Juazeiro da Bahia de onde seguindo por Pilar, Uauá e Bendegó cheguei a Canudos por volta das 20:45. Noite de clima agradável com aquele friozinho, fui caminhando para a casa de Dona Bebé, sentindo emoção e alegria de está novamente nesta terra. Dona Bebé é uma senhora na qual nos tornamos amigos e que nos acolhe todo ano em sua casa nos dias da romaria e que, desde ano passado, sou hóspede em sua residência durante minha viagem nesse período de férias. Foi uma alegria imensa lhe reencontrar. No outro dia bem cedo fomos à feira na praça central da cidade.

Nos dias 17 e 18 de julho fiquei em Canudos e participei das atividades do centenário de nascimento de José Calasans. Um dos historiadores que mais contribuiu com suas pesquisas para a compreensão da história da Guerra de Canudos, Antônio Conselheiro e seus seguidores. Foram algo em torno de 50 anos de dedicação aos estudos sobre Canudos, interrompidos em 2001 quando veio a falecer, mas que deixou uma vasta contribuição enquanto professor e pesquisador.

A expedição Calasans a Canudos é parte da programação do centenário que compreendeu as seguintes atividades: 17 de julho às 16h- recepção no memorial Antônio Conselheiro – UNEB a comitiva de pesquisadores, escritores, poetas, cineastas e conselheiristas diversos que vieram de Salvador, Aracaju e cidades vizinhas que vieram participar do evento; às 20h- sessão solene na Câmara de Vereadores de Canudos em homenagem a José Calasans, com a presença dessa comitiva, vereadores e o prefeito de Canudos, Madalena, filha de Calasans e o público em geral. Em seguida apresentação musical com Fábio Paz.

No sábado dia 18 a programação começou por voltas às 8h com a exibição do documentário de Claude Santos sobre a memória de Canudos, às 9h, visita ao Parque Estadual de Canudos, com inauguração do cenário “Os Memorialistas”, 15h - Mesa Redonda no pátio do memorial, no qual tive oportunidade de participar realizando intervenções, e as 20h:30min- Apresentação da Companhia de Teatro de Canudos.
Foram dois dias de muito aprendizado e troca de experiências na perspectiva de uma maior integração Quixeramobim x Canudos no contexto atual tendo como referência os percursos de Conselheiro.

No domingo dia 19, acompanhado do amigo Zé Raimundo (Carapina) fui conhecer a Serra do Cambaio e Lagoa do Sangue, locais no qual aconteceram conflitos na segunda expedição da Guerra de Canudos. A Serra do Cambaio de fato, é um local estratégico com trincheiras naturais e outras construídas pelos jagunços para atacar as tropas militares que vinham de Monte Santo pela estrada de Uauá. Sem contar com a visão privilegiada que os conselheiristas tinham, tanto dos soldados que vinham pela estrada de Uauá, bem como acenar para Canudos quando de alguma ameaça. Da Serra do Cambaio avistava-se Canudos. Pena que esses locais sejam em propriedades particulares, sem sinalização ou trilhas para visitação do público interessado. O acesso ao Cambaio atualmente está difícil. Mesmo assim fui, pois queria realizar esse desejo e de fato a visão estando lá é muito bonita.

Descendo da Serra do Cambaio fui conhecer a Lagoa do Sangue logo ali nas proximidades. Local de combate entre os seguidores de Conselheiro e as tropas do exército. Lá tem um marco simbolizando esse episódio.

De volta para Canudos, passei em Bendegó em busca de notícias do meu amigo Manuel Travessa e para minha surpresa ao chegar a seu restaurante fui informado que ele não estava mais por lá. Encontra-se doente, ficando na sua residência na Canudos Velha, onde se encontra o museu que ele organizou. Lamentei bastante não ter ido visitar o amigo.

Seguindo viagem de Bendegó a Canudos passei pela Umburana. Visitei a casa onde nasceu João de Régis, cidadão de Canudos e brilhante memorialista da história do seu povo. Atravessando o rio das Umburanas fui ao local onde supostamente tenha sido enterrado Moreira César, o famoso “corta cabeça” do exército brasileiro que tanto queria almoçar em Canudos e morreu em combate.

Terminei minhas visitas no domingo deliciando um bode assado no restaurante de Dona Terezinha na praça central de Canudos, espaço onde acontece a feira toda sexta-feira.

Na segunda feira, 20, fui conhecer Jeremoabo, que está localizada há 96 km de Canudos em direção a Sergipe, local de onde partiu a tropa do General Sarvaget na quarta expedição para destruir Canudos. No percurso passei por Canché e Água Branca, comunidades a margem do rio Vaza Barris, locais onde possivelmente tenham passado as tropas em direção a Canudos em 1997.

Na terça, 21, segui bem cedo para Euclides da Cunha, onde lá estava me esperando o amigo Carlos Carneiro para seguir viagem em meu percurso pelo sertão baiano. Como o mesmo devido ao trabalho não pôde me acompanhar, designou nossa amiga Simone, que já conhecia desde ano passado, para cumprir essa missão, no qual fiquei muito grato pela sua disponibilidade e gentileza de viajar comigo para Tucano, Pombal e Cícero Dantas, antigo Bom Conselho, local no qual Conselheiro ajudou a construir a Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, padroeira da cidade, no qual tive a alegria de conhecer. Todos esses lugares foram caminhos de peregrinações de Antonio Conselheiro em solos baianos. Ainda tem outros lugares que ainda falta visitar e quero fazer em breve nas próximas férias.

Para terminar o dia antes de retornar para Euclides da Cunha, fui conhecer Caldas do Jorro, distrito de Tucano, um balneário turístico que recebe diariamente muitos visitantes em busca de suas águas quentes que jorram ininterruptamente, pois foram perfuradas com 1861 metros de profundidades quando em 1949 os estrangeiros faziam pesquisa pela região em busca de petróleo. Lamento não ter levado acessório de banho, espero voltar para aproveitar esse espaço agradável de lazer do sertão baiano.

Na quarta-feira 22, eu e o amigo Carlos Carneiro fomos rever a nossa amiga Lyra e sua mãe Ana em Monte Santo, cidade que tenho muita admiração, pois me transmite uma paz e alegria sem explicação. Dessa vez não subi monte do santuário da Santa Cruz, mas aproveitei para revisitar alguns espaços da cidade como a Igreja Matriz, praça central onde tem a estátua de Conselheiro, uma réplica do canhão da guerra de Canudos e alguns casarões que ainda resistem no centro histórico da cidade. Visitei o espaço artesanal no centro da cidade e conheci o poeta José de Jesus Ferreira, o Zé Poeta, que me passou muitas informações sobre minhas próximas viagens que pretendo fazer pelo sertão baiano. E claro, não poderia deixar de comer um bode assado da Churrascaria Terraço, mas dessa vez levei o bode para a casa de nossa amiga Lyra que nos ofertou um gostoso almoço, além de uma amostra grátis de seu trabalho de massoterapia. Muito relaxante, aliviando o estresse do dia a dia, eu recomendo. Só lamentei a amiga Cristiane Lima não estar em Monte Santo, mas compreendo sua ausência.

Na quinta, 23 de julho, depois de um dia chuvoso em Euclides seguimos eu e Carlos Carneiro para o povoado de Maceté, para rever os amigos e participar da reunião do coletivo de jovens daquela comunidade. Agradeço a hospitalidade de todos, além do cuscuz servido na escola após a reunião e o café da manhã de sexta-feira na casa de Marília com pão produzido na padaria de seu pai, foi maravilhoso. É sempre uma alegria voltar a Maceté, pois foi de lá depois do fogo do Viana que em maio de 1893 que Conselheiro e seu grupo seguiram para Canudos e lá instalou em junho do mesmo ano o Belo Monte.

Retornei para Euclides da Cunha na sexta-feira, 24, para prestigiar o espetáculo “Sonho de um palhaço” dirigido pelo amigo Carlos Carneiro que estava competindo na mostra euclidiana de teatro, onde ganhou na categoria de melhor ator. Além de aproveitar a noite fria de Euclides com os amigos na praça principal da cidade.  No dia seguinte retornei para Canudos ao meio dia, para no fim de semana visitar alguns amigos e comer um bode assado no Mirante do Conselheiro na companhia do Poeta Zé Américo.

Na segunda-feira, 27, passei o dia na Toca, local da roça de Dona Bebé nas proximidades da Toca das Araras que ainda não conheço, mas ainda desejo visitar. Na terça feira, 28, realizamos contatos e articulações para a Romaria de Canudos que este ano terá uma maior representatividade de Quixeramobim. E no dia seguinte, 29, bem cedo às 5h da manhã deixei Canudos em direção a Quixeramobim.

No próximo ano na terceira expedição desejo conhecer outros percursos do Conselheiro: Itapicuru de Cima, Crisópolis, Cipó, Nova Soure, Olindina, Aporá e Alagoinhas. Estes devem ser meu destino no sertão baiano nas minhas próximas andanças pela região. Até a próxima expedição!

Neto Camorim-Historiador e Integrante da Ong. Iphanaq.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

PAPO CULTURAL EXIBE CURTA “MEMÓRIAS DO BAIRRO” E REALIZA DEBATE COM SUAS IDEALIZADORAS

Aconteceu neste dia 26 de junho o 52º Papo Cultural. Neste papo esteve presente Sara Oliveira e Mayara Albuquerque onde apresentaram o curta “Memórias do Bairro” retratando a história do Bairro Vila Betânia. O trabalho ora apresentado foi uma iniciativa da escola de Ensino Fundamental José Carneiro através do Programa Mais Cultura nas Escolas.
A princípio as realizadoras do vídeo Sara Oliveira e Mayara Albuquerque fizeram uma rápida apresentação do trabalho e em seguida aconteceu a exibição do documentário. Durante todo o trabalho foi apresentado muitos personagens, que contaram a história a partir de seu olhar, trazendo presente as mudanças ocorridas no bairro Vila Betânia ao longo do tempo.

Após a exibição ocorreu uma mesa de debates sobre o documentário onde várias pessoas participaram fazendo elogios ao trabalho apresentado, destacando principalmente a qualidade da produção e a importância do resgate histórico feito pelas pessoas em seus depoimentos no vídeo. Entre essas pessoas estava Maria Francisca do Carmo (Titiá), uma das primeiras catequistas da Paróquia de Santo Antonio e que já esteve presente contando um pouco de sua vida no Papo Cultural.
Muitos comentários foram feitos destacando como a vida no bairro é dinâmica e, principalmente a importância do Açude da Comissão para toda a população do bairro. Outro destaque importante foi à participação das crianças na produção do trabalho e da própria comunidade escolar que se envolveu no projeto.

Texto
Ailton Brasil – Presidente da Ong. Iphanaq

Fotos
Edmilson Nascimento

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Artigo: Com Marcílio, em viagens

Foto: Elistênio Alves/Arquivo Iphanaq
Com meu amigo Marcílio, seguir com os afetos que ele nos entregou, a carregar. Doação, sem nada cobrar. O prazer na boa conversa, em um caminho aberto à amizade feita no lugar que converge nossos passos, de uma história com os outros. Passos que passam a ser nossos, e assim os tomamos para nossa caminhada.

Além da emoção, logo após, foi uma ideia que veio logo ao receber a notícia sobre sua viagem maior. Ela fica sendo a penúltima, ao tempo em que ele, Marcílio, chega a passear em nós, de maneiras que vamos descobrindo. É o que vem e fica dos grandes viajantes, quando conseguimos pensar após a emoção forte do impacto da notícia, motivo de não escrever antes. Como disse a jornalista e professora Eleuda de Carvalho, ao saber dessa viagem, “é um pedaço da nossa memória que passa ao silêncio e ao eterno”. Ela que, pelo trabalho em viagem, tomou afeto por Marcílio, compartilhando lugares com ele, pela voz, pelos cadernos. “Antônio Vicente Mendes Maciel foi uma chama viva e vivificada por seu parente afável e bom”, disse ainda Eleuda, encruzilhando as veredas dos dois, bifurcando mundos, lembrando ela dos peixes partilhados por Marcílio.

Do Marcílio da Rua da Cruz me falaram primeiro os amigos que por lá moravam, que com ele conversavam à noite, tecendo as dimensões um tanto ocultadas na cidade falante em pogresso, no seu embotar de poderes que são novos apenas como se anunciam.

Exterior e Interior – No passo solidário um tanto encoberto, Marcílio foi cativando amigos, na cidade e entre aqueles que a visitavam, como artistas, jornalistas e pesquisadores. Além da querida Eleuda, recordo-me do contato com o professor Paulo Emílio, grande pesquisador e entusiasta do Belo Monte, território que este, tornando-se amigo, reconheceu no Maciel com quem passou a conviver, trocar correspondências. Fogo de vida, como em um texto que escrevi, uma exposição não mostrada de fotos, mas que com Ele, Marcílio, logo saltou dentro de nós para habitar um interior movente de cada um.

Voz forte, bela, coração maneiro, sentidos argutos. Assim viveu e assim está Marcílio no filme “Paixão e Guerra no Sertão de Canudos”, em uma das conversas com o documentarista baiano Antônio Olavo, onde está, como em dimensão divina, com sua adorada mãe, Dona Zefa. Ou na tela de Alexandre Veras e seus alunos, como Elistênio Alves, falando com seus contemporâneos – no tempo e não todo tomado por ele – sobre o amigo Conselheiro, sempre especial para Marcílio, a partir de quem lançou uma dimensão diferenciada de família: do sangue e do mundo íntimo, mas para além deles, extravasando qualquer enquadramento de câmera nesse sentido.

Por essas ruas, no Riacho da Palha, rompendo a separação de tempos com sua voz, seu narrar. Também confuso e confundido no caótico da cidade, modernidade de onde ele falava sem se render a lamentos, mas reconhecendo esse lugar para interroga-lo a sua maneira, trazendo algo a friccioná-la, como se a espremesse e, mesmo sofrendo, nos sacudisse para perceber algo mais. No Riacho da Palha de Helena Maciel, em combate com Araújo. Um golpe na carótida, o que saía da voz de Marcílio, narrando, interrompendo nossa suposta concentração, na minha retina e na de Weynes Matos, estendida com a câmera os sentidos. Em um descampado tomado por casas e comércios, papeis passados ouvindo buzinas e sentindo odor sem agrado, subindo aos pontilhões. E lá Marcílio, conosco e seus tantos outros, em quentura na moleira, braços longos, calças compridas, pele e alma bronzeadas de ternura. Seu jeito de pastorear, de caminhar conosco.

Afetos – Rapaz solteiro, como se efinia, foi acompanhado pelos familiares em seus penúltimos dias, a partir da irmã Vilani. No decorrer da vida, acompanhou com carinho os seus mais próximos, de quem tanto gostava, como o irmão, e principalmente a mãe. Foi mencionando-a que se desculpou por não poder ir a Canudos, em 1997, muito agradecendo o convite que recebia. Mandava suas lembranças, desejando boa viagem à terra que afetivamente dividia com os amigos, rompendo fronteiras geográficas, fazendo um limiar sempre possível, na condição de narrador. Antes às agruras do dia a dia, demostrava alegria com a notícia do aposento, e mandava dizer pela minha mãe que as coisas haviam caminhado bem, agradecendo a torcida que tínhamos para o que o iria dar alguma tranquilidade. “Depois vou ajeitar uma galinha gorda pra vocês”, soltava a voz entre firmeza e riso.

E em uma lacuna de carnaval, um amigo que, pelo azar de ‘prego’do carro, dava a sorte, pelo menos, de poder encostar perto da casa de Marcílio, para ouvir: a culpa toda foi do Prudente de Morais, um portal para a prosa sem um começo e um final. E também Marcílio, na Igreja, em calçada, ao lado da irmã, da sobrinha, com velhos e sempre novos amigos. Com alguns deles fiz caminho, nas páginas da Revista Entrevista, do Curso de Comunicação da UFC, fotografado e abraçado pelo amigo e professor Ronaldo Salgado. Com muita felicidade, brindamos essas páginas, compartilhadas aos leitores.

Mas o que primeiro entra em minha memória, quando em mim percorrem tais lembranças, é a imagem do cachorro que, durante a entrevista, no hotel fazenda, aproximou-se do punhado de pessoas e escolheu sentar nos pés de Marcílio. E ali se aquietou, no prazer tranquilo de ser acarinhado pelo narrador, que descaroçava palavras entrecortadas pelo tempo.

E viva Marcílio! Que está com Deus, e esteja conosco.

Por
Danilo Patrício
Jornalista, doutorando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

CINECLUBE IPHANAQ REALIZA EXIBIÇÃO NO ASSENTAMENTO PITOMBEIRA

O Cineclube Iphanaq esteve com Aílton Brasil, Edmilson Nascimento e Neto Camorim, coordenador do cineclube, no Assentamento Pitombeira, 10 km de Quixeramobim, realizando pela primeira vez exibição de cinema naquela comunidade. Na ocasião foi exibido o documentário “Migrantes”.

Produzido em 2007, fruto de parceria entre a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o documentário mostra a hipocrisia do discurso da “modernidade” autoritária na zona rural do Brasil, expondo realidades dos migrantes nordestinos e as condições trabalhistas desumanas de cortadores de cana, que saem do Piauí, Maranhão e de outros Estados. São migrantes brasileiros que deixam suas famílias e desabam pra São Paulo. Vai todo mundo “pro corte de cana”. Seu Luiz, do município de Codó, no Maranhão, é um deles. “Não sei se eu vou, não sei se eu não vou, meu Deus. Aí fica naquela, sabe? Mas que vai resolvendo eu ir”, conta em seu depoimento no filme.

Separações
- “Por mim ele não ia não”, conta a bem-humorada sogra de Luiz, Tereza. “Eu acho dificultoso ele pra lá e nós pra cá. A mulher dele fica aí sofrendo”. Quando foi pela primeira vez, ela completa, chegou “magrinho, magro demais”. Luiz argumenta: “Na idade que eu tô, pra ir não é porque eu queira. É por necessidade. Porque se eu não ir, aqui não tem como me ajudar meus filhos. De maneira alguma”. Essa é dura realidade de Luiz e de outros milhares de cortadores de cana-de-açúcar é tema deste filme que mostra uma realidade pouco conhecida. Os jornais, TVs e revistas costumam destacar a “modernidade do campo” e o desenvolvimento agrário brasileiro – automatizado, justo e sem grandes problemas, cuja principal ameaça seria os grupos de trabalhadores politicamente organizados.

Outra realidade destacada no documentário são as famílias despedaçadas. A busca pela sobrevivência dá lugar, nas cidades de origem, à saudade e à tristeza de viver em uma família sem pais ou irmãos. Ficam apenas as mulheres, crianças e aposentados. São filhas, mães, esposas, cada qual sofrendo à sua maneira. Essa situação é muito triste, mas infelizmente ainda acontece, inclusive aqui em nossa região, onde muitos jovens ainda vão todo ano pro corte de cana em busca da sobrevivência. Assim comentou Ruth dos Santos, estudante, moradora da comunidade, durante o debate após o filme.

Espaço de lazer e debate – Na ocasião, ela também agradeceu a presença do cineclube na comunidade e disse que está sempre à disposição para outras exibições em outras oportunidades. As pessoas hoje, sejam elas da cidade ou do campo, quase não têm opção cultural. E um cinema que proporciona debate sobre a realidade e outros contextos é muito importante”, frisou a jovem Ruth.

O projeto Cineclube é uma ação da ONG Iphanaq, que a cada mês realiza exibição de cinema nacional nas comunidades de Quixeramobim. Tem o apoio cultural do SESC-Ler e do Sistema Maior de Comunicação.

Neto Camorim – Historiador e Coordenador do Cineclube e Integrante da ONG Iphanaq.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Papo Cultura de maio recebe Marcelo Matos, Coordenador do MST

O 51º Papo Cultural recebeu na última sexta de maio, dia 29, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marcelo Matos. Atualmente Marcelo é um dos coordenadores da “Brigada Antônio Conselheiro”, região política do MST, sediada em Quixeramobim.

Natural de Quixadá, mas hoje com título de cidadão quixeramobinense, Marcelo morou na Fazenda Triunfo, em Quixadá, e esteve um período com sua família em São Paulo, Ibaretama, mas retornou a morar em Quixadá. Aos 11 anos de idade, o ativista participou da primeira ocupação de terra de sua vida, que se deu entre os municípios de Aracoiaba e Ocara. Com o passar do tempo, ele participou do setor de juventude do MST e, posteriormente, do setor de comunicação. Mais tarde, cursou Comunicação Social, fazendo parte da primeira turma de Jornalismo da Terra na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Falando da trajetória do MST, Marcelo fez um relato histórico dos movimentos populares no Brasil ligados à terra, destacando Canudos, Contestado, Caldeirão e as Ligas Camponesas. Movimentos percussores da luta pela terra, mas que foram isolados ao longo de suas lutas.
O dirigente falou um pouco dos líderes, destacando principalmente Antônio Conselheiro e o Beato Zé Lourenço, lembrando que a Igreja Católica, através da Pastoral da Terra, foi uma instituição que a princípio apoiou o surgimento do MST, no Rio Grande do Sul.

Ocupação x Invasão – Noutro momento do Papo, Marcelo destacou que o processo de luta pela terra se inicia com a ocupação de um latifúndio. Ele explicou a diferença entre ocupação e invasão, como é nomeado pela maior parte da mídia brasileira. “Lembro que, segundo a nossa Constituição, a terra tem que cumprir sua função social e, caso isso não ocorra, deve ser destinada para fins de reforma agrária. Como não há boa vontade dos governos, os trabalhadores ocupam a terra para forçar a desapropriação do latifúndio”, destacou.

Assim surgiu o MST em 1985, tendo como primeiro lema “terra não se compra, se conquista”. Ao longo desses 30 anos de existência, o Movimento tem sofrido diversos ataques da grande mídia, do empresariado e principalmente por parte dos agentes do Agronegócio, concentrando muita terra e assentos no Congresso Nacional, tentando barrar o processo da reforma agrária no Brasil.

Marcelo destacou também outros fatores importantes para que o MST tenha conquistado tanto espaço. Entre eles está o não isolamento, articulando-se com outros movimentos sociais brasileiros e internacionais, formando a Via Campesina. Segundo Marcelo, além da conquista da terra, a luta pela educação tem dado ao MST uma base sólida ao Movimento, conquistando vários cursos para o processo de formação dos agricultores e dos militantes. Os cursos vão das séries iniciais até à universidade.

Solidariedade – Outra característica do Movimento é a solidariedade. O MST tem contribuído na luta de vários povos do mundo, manifestando-se contra o processo de destruição dos mesmos, como no caso dos palestinos, e na luta pela reconstrução do Haiti.

Marcelo chamou a atenção para outro dado importante: cerca de 70% da comida que chega à mesa do povo brasileiro vem das áreas de reforma agrária, enquanto que a maior parte do que o agronegócio produz é exportado.
Durante o papo, Marcelo fez várias críticas ao governo federal, destacando que o papel de reivindicação e mobilização tem se dado no processo de luta e, conforme ressalta, as conquistas do movimento vão para além das classes camponesas.

Ao encerrar o Papo, Marcelo lembrou que a luta pela terra é marcada pela solidariedade e, em seguida, recitou um poema de Bertold Brech, para encerrar sua fala.

Texto – Ailton Brasil, Presidente da ONG Iphanaq
Fotos:  Edmílson Nascimento
Direção: ONG Iphanaq