O Cineclube Iphanaq realizou no dia 14 de agosto, no Assentamento Muxuré, distrito de Lacerda, exibição de cinema pelo sertão. Foi a primeira vez que o projeto esteve na comunidade.
Os filmes apresentados do salão comunitário, próximo
a residência do senhor Valdim Paulino foram o curta infantil, “Calango Lengo” e o documentário “Sertão, Sertões”, de Sérgio Resende.
Inspirado em dois clássicos da literatura
brasileira, Os Sertões, de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa, o filme de Sérgio Resende é uma reflexão sobre a categoria mítica
do sertão no Brasil contemporâneo.
O deslocamento das populações rurais para os
grandes centros urbanos e, do outro lado, a expansão das fronteiras agrícolas
brasileiras, parecem confirmar a profecia famosa de Antonio Conselheiro:
"O sertão vai virar praia, a praia vai virar sertão".
No mundo globalizado em que vivemos talvez se
possa expandir o conceito de sertão para outras regiões do mundo, sendo o
sertão o mundo do atraso e o litoral o assim chamado primeiro mundo.
Filmado ao longo de dois anos, a produção
percorreu os territórios míticos de Rosa e Euclides, o norte de Minas e o
sertão baiano. Esteve também em Rondônia, palco da rebelião dos operários da
usina de Jirau. E se debruçou sobre o novo "sertão" das comunidades
pobres do Rio de Janeiro, sobretudo a da Rocinha e Dona Marta.
Após as exibições aconteceu um debate mediado
pelo presidente da Ong. Iphanaq, Ailton Brasil, que estava presente ao evento.
Segundo o senhor Dedé Lourenço, morador da
comunidade e que veio assistir o filme, considerou importante aquele momento
para pensar algumas questões sobre o sertão que continua enfrentando problemas
desde muitos anos sem uma solução definitiva pelos governos. “Os jovens das comunidades estão saindo do
sertão para a cidade em busca de uma vida melhor que na maioria das vezes não acontece.
O nosso sertão está ficando só os mais velhos e são poucos. Esse filme me fez
pensar sobre essa realidade que entre ano e sai ano e continuamos enfrentando. Até
quando isso vai continuar? Por isso que a cada dia aumenta a violência nas
cidades e agora está chegando à zona rural. É um quadro de abandono para os
pobres seja na cidade ou no campo. Não sei falar bem, mas é isso que penso”.
Assim se expressou.
Para o senhor Valdim Paulino, que já tinha
participado de outro cineclube ano passado na comunidade vizinha de São João
Velho, dessa vez ele gostou mais. “Aqui
no Muxuré teve debate às pessoas participaram mais achei bem interessante esse
projeto cineclube de oportunizar as pessoas do sertão ter acesso ao cinema e
conversar a partir do filme sobre sua realidade”. Destacou.
Ainda contribuíram no debate o senhor Chico
Antônio, também morador do assentamento e o coordenador do projeto cineclube
iphanaq, professor Neto Camorim.
Texto: Neto Camorim
Fotos: Ailton Brasil e Neto Camorim
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