Antônio Vicente Mendes Maciel é
uma das maiores personalidades estudadas, pesquisadas e debatidas nas
Universidades brasileiras e internacionais, em escolas públicas e particulares
é uma figura que não pertence tão somente ao Ceará, a Bahia, ao Brasil ele é
universal não pertence a ninguém e ao mesmo tempo é de todos, parece paradoxo,
mas é real.
Em 1871 após passar por várias
cidades do estado do Ceará, chega aos estados de Pernambuco e Sergipe, os estudos
mostram que só a partir de 1876 Antônio Vicente Mendes Maciel pisou em solo
baiano já com alguns seguidores instalando-se em Itapicuru que faz fronteira
com o estado de Sergipe. Ali os noticiários dão conta da passagem do beato pelo
povoado de Rainha dos Anjos, onde foi preso acusado de ter matado sua mãe e
esposa, levado de volta ao Ceará. Inocência provada retorna à Bahia em 1880
onde constrói uma igreja e um cruzeiro, concluídos em 1892 no povoado de Bom
Jesus onde hoje é a atual Crisópolis e assim o peregrino percorre diversos
municípios: Aporá, Entre Rios, Chorrochó, Biritinga, Olindina, Ribeira do
Amparo, Esplanada, quando em 1893 passa em Maceté onde aconteceu um confronto
de conselheristas e a força armada do exército baiano no dia 26 de maio (hoje,
acontece anualmente a celebração do Fogo do Macete ou Fogo do Viana). Neste
mesmo ano em junho, Antônio Conselheiro chega à Canudos com seus séquitos.
Este texto não pretende dar conta
da exatidão do percurso por onde Conselheiro passou, mas dizer da curiosidade
que causa essa trajetória para inúmeros pesquisadores, historiadores e
estudiosos sobre a temática “Canudos”, destes que buscam entender o porquê
desta caminhada ou simplesmente refazer parte do percurso por onde passou e viveu
o beato peregrino. Mais de um século após, o fim da guerra, um grupo de
professores e pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) identificou
e registrou as possíveis trilhas e estradas por onde os seguidores de Antônio
Conselheiro e as tropas do exército circularam no fim do século XIX,
objetivando criar um roteiro turístico a partir desses itinerários.
Foi feito um levantamento através
de audiovisuais e fotografias, percorrendo sítios, fazendas e diversas locais
que foram palco de embates entre soldados do exército e conselheiristas. “Fizemos
um reestudo crítico da bibliografia sobre Canudos, dos relatos dos comandantes
do conflito e mapas antigos”. Conta
o professor Roberto Dantas. O resultado deste estudo encontra-se registrado em
audiovisual e livro na Universidade do Estado da Bahia (Uneb) campus
XXll-Euclides da Cunha. Há ainda com sede em Euclides da Cunha, um projeto
anual o “Congresso Os Sertões” que dá conta de visitar algumas cidades que
fizeram parte do circuito da Guerra de Canudos: Maceté (Quijingue), Canudos,
Monte Santo, Euclides da Cunha e Uauá com estudantes, historiadores,
pesquisadores e artistas, que discutem in loco os assuntos referentes a
trajetória do Conselheiro, as causas da Guerra, a aglomeração de nordestinos em
Canudos e muito mais. Não são poucos os que se debruçam sobre a vida e
trajetória do Conselheiro, recentemente recebemos um conterrâneo do beato que
esteve em nossa região (Euclides da Cunha, Canudos, Monte Santo, Maceté,
Quijingue, Bendegó e Uauá) - Neto
Camorim, especialista em História e Sociologia pela (URCA) Universidade
Regional do Cariri, graduado em história pela (UECE) é Professor do Liceu de
Quixeramobim rede pública no Ceará, e membro da Ong. Iphanaq, e coordena o
Ponto de Cultura Patrimônio Vivo. Sua visita teve como objetivo conhecer parte
do percurso (re) vendo e ouvindo pessoas com a tentativa de colher informações
para seu possível projeto de mestrado.
Estando em Euclides da Cunha o
pesquisador, Neto Camorim visitou a Praça da Bandeira a casa onde supostamente Moreira
Cesar pernoitou, a Matriz, o Monumento dedicado ao autor de Os Sertões, a Praça
Duque de Caxias, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e outros locais.
Em Maceté o professor esteve na
praça dedicada ao seu conterrâneo (Antônio Conselheiro) reuniu-se com o
coletivo de jovens, indo ao local onde ocorreu o “Fogo de Maceté”, conversou
com personalidades no local, entrevistou o senhor Manoel Cavalcante (seu Nel)
reforçando a participação dos macetenses no “Conselheiro vivo” (evento anual do
calendário de Quixeramobim que celebra alusivamente o nascimento do
Conselheiro) e da “Romaria de Canudos” outro evento anual que celebra os
mártires de Canudos, com essa participação segundo o professor Neto Camorim
estreitaria distâncias e ideias.
Visitando Monte Santo, considerada
o Altar do Sertão, o pesquisador encanta-se com a Serra do Piquaraça faz o
percurso que milhares de romeiros e fieis fazem ao menos uma vez a cada ano, a Serra
tem aproximadamente 6 km com altitude de mais de 500 metros , 14 capelas
pequenas que correspondem aos momentos da paixão e morte de Jesus Cristo, servindo
para os fieis ascenderem velas e fazerem orações, a romaria teve inicio em 1775
com o Capuchinho Frei Apolônio de Todd. Ainda em Monte Santo o pesquisador
esteve na Praça central da cidade onde há exposta uma peça da “matadeira”
canhão que ajudou a dizimar Canudos, visitou e conquistou novos amigos comprou
e ganhou artesanatos dos simpáticos artistas montesanteses.
Em Quijingue o especialista
reuniu-se com alguns secretários municipais e discutindo pontos de sua pesquisa
que se referem ao percurso percorrido pelo Conselheiro, esteve conversando com
professores de sua área e reforçava ainda mais o envolvimento dos quinjiguenses
em março lá no Ceará dentro da programação do “Conselheiro Vivo” e em outubro
na Romaria de Canudos.
Canudos, assim como Bendegó já são
quase segunda terra do historiador ainda assim, pode conhecer a toca das Araras
local visitado por inúmeros ambientalistas e turistas. Esteve também reunido
com a Cia Teatral de Canudos, poeta Zé Américo, Lica e alguns organizadores da Romaria.
Finalmente visitou Uauá estando na
Igreja Matriz São João Batista, no espaço cultural do múltiplo artista Gildemar
Sena o Toque da Zabumba.
Frequentemente ouvia o professor
proferir emocionado esta frase que me remetia a outra “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo
dos mestiços neurastênicos do litoral.” (Euclides da Cunha).
O que concluímos com isso é que o
“Sertão” é fonte de inspiração para a arte, instituições educacionais e
religiosas, estudantes, pesquisas cientificas e ainda povoa a imaginação do
povo que reside em todo o mundo.
Carlos Carneiro- Graduando em letras pela UNEB- Campus de
Euclides da Cunha e diretor da Cia Teatral de Canudos.
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