Foi realizado no último dia 27 de
abril, na casa de Antonio Conselheiro, como sempre acontece na última sexta
feira de cada mês, mais uma apresentação do projeto Papo Cultural. Que desta
vez, recebeu como convidado na sua 16ª edição, o radialista esportivo Viana Filho (O Vianinha), que há 44
anos dedica seu trabalho ao futebol de Quixeramobim. É o cronista esportivo com
mais tempo na atividade no município. Tem um conhecimento vasto sobre as
histórias do futebol local.
Inicialmente, o historiador Neto
Camorim, fez uma rápida apresentação do convidado, falando da alegria de
recebê-lo no projeto, e em seguida passou o comando do evento para o
coordenador do Papo Cultural, Bruno Paulino, que fez a mediação durante a
apresentação do convidado.
Na primeira parte de sua apresentação,
Viana Filho falou da sua chegada em Quixeramobim nos meados de 1960, vindo de
Quixadá sua terra natal, e quando aqui chegou começou a trabalhar de operador
de rádio, e em seguida, 1968 começou a atuar como locutor esportivo na Difusora
Cristal, onde continua até o momento. Como bem faz questão de frisar no seu
programa esportivo. “promovendo o futebol
e o esporte de Quixeramobim”.
Fez questão de destacar no papo
cultural, sua paixão pelo Ferroviário Atlético Clube (O Ferrão), como o chama
carinhosamente e a Rádio Difusora Cristal. Ressaltou que trabalhou em várias
emissoras aqui no sertão central e até fez estágio na Rádio Verdes Mares em
Fortaleza, mas sempre voltou para a Cristal. A pioneira da região.
Na segunda parte, Viana falou sobre o
futebol de Quixeramobim nos anos de 1980, em especial 1989, quando o município
foi campeão do intermunicipal, da rivalidade entre cruzeiro e flamengo, que na
época as torcidas dividiam a cidade. Além dos torneios que promove na cidade e
interior, a copa cristal e mais recentemente o campeonato dos evangélicos.
Segundo Viana, a Copa Cristal é o maior campeonato de futebol do interior
cearense.
No terceiro bloco, destacou vários
causos, histórias e lambanças que envolveram diversos personagens do futebol de
Quixeramobim, dentre eles o Joli, Boquita, Maurício, Catolé, Rama, Turica,
Tachiquim, Bozó, Edilson Barbeiro (in memória), Laudelino de Algodões, Tarcísio
da Cacimba Nova, entre outros. Na sua maioria são episódios bem engraçados, o
que levou o público presente ao papo cultural darem boas risadas.
Viana Filho ainda comentou sobre os
avanços e dificuldades que ainda enfrenta o futebol de Quixeramobim, mesmo hoje
tendo uma secretaria municipal de esportes, ainda precisa fazer muito mais por
essa juventude principalmente, tão carente de atividades esportivas saudáveis.
Frisou.
Para finalizar o evento, Ailton
Brasil, presidente da Ong Iphanaq, agradeceu a presença de todos e de maneira
especial o convidado Viana Filho, que recebeu uma menção honrosa da
instituição, entregue pela geógrafa Terezinha Oliveira. Em seguida, Bruno
Paulino leu uma mensagem (via e-mail) enviada pelo jornalista e integrante do
Iphanaq Danilo Patrício ao radialista Viana Filho, que reproduzimos em anexo.
Mensagem de Danilo Patrício, para Viana Filho
Bruno,
uso seu telefone modernoso para cumprimentar a todos, lamento não estar
presente nesse encontro e ao mesmo tempo manifesto minha alegria em saber do
convidado no Papo Cultural de hoje, iniciativa já vitoriosa e tão importante,
desenvolvida de modo valoroso pelos militantes e amigos da ONG Iphanaq e turma
do Ponto Patrimônio Vivo.
Satisfação
saber de Viana Filho na Casa Conselheiro. Um repórter visceral e um agitador
cultural, no mais intenso que essa expressão possa propagar. Aquele que agita a
vida inventando coisas, mais notadamente pelo futebol, que faz projetar num
espaço entre o profissionalismo por nós sonhado, distantes dos centros
econômicos, e respondido com nossa interpretação matreira na forma de arte, que
permite interpretar vestindo uniformes. Vestimentas que dão um caráter
simbólico e importante ao trabalhador braçal, a maioria que faz o futebol em
cidades e povoados como os nossos, espalhados pelo Brasil.
Alô
Viaaaana, gritava com bom humor o Capivara, Raimundo Nonato Monteiro e Silva,
nosso amigo em comum, de quem fui colega de sala, no início dos anos 1990, e
que comandava a mesa de som da Campo Maior com competência.
Já
viciado em rádio, ou na voz!, criei coragem para participar do Bate Rebate, que
Viana produzia nas tardes de domingo, antes do Futebol. Dois ouvintes se
desafiavam nas perguntas feitas pelo radialista, que alguns já, para
importuná-lo, chamavam de ¨Repórter Perna Fora do Esquadro¨!
Empatei
com o participante que vinha ganhando já há algumas rodadas: 3x3 no placar.
Desconfio até hoje que cheguei ao resultado com uma leve ajuda do Viana, que,
como observei depois, ao ir para o Carneirão, parava para beber água e
conversar com meu avô, Expedito, de quem o pai dele, Seu Viana, já era amigo de
outras palestras, como diziam os mais antigos. O concorrente, caminhoneiro que
virou amigo, Erialdo, era do Riacho da Cruz, onde nasceu meu outro avô, José, e
o pai dele, Salviano Patrício. Não sei se coincidência, mas a trilha dos afetos
se fazia e de outras formas me acompanhariam rádio e futebol, marcados por uma
memória tão marcante que se ligam ao Viana Filho, assim como muitos de nós que
o ouvimos e em nós moldamos esse personagem.
O
placar do Bate rebate foi de 3X3. Acho até que o programa acabou depois.
Acontecia na primeira sede da Campo maio, onde hoje funciona a Antena Centro.
Viana incumbiu Capivara de me convencer a fazer parte da equipe esportiva, à
época na Campo Maior, ainda que precisasse insistir muito. E assim o fez, pela
minha timidez e desentendimento sobre o convite.
O fato
é que fui, meio desconfiado, e bem recebido por ele e outros radialistas, onde
muito aprendi da vida. Tive lá meu primeiro salário, ou ganhos resultantes dos
patrocinadores, o que ajudava a pagar o colégio que eu frequentava à noite, em
Quixadá, durante o 1o e 2o ano do segundo grau.
Alô
Viaaaana!
E o
acompanhei valente batendo com veemência em sua máquina de datilografar, que
fazia com habilidade, divulgando com esmero os campeonatos que continua a
organizar. Fui a alguns deles, como em Tunísia, onde fomos recebidos com
fartura e ternura pelos irmãos Pepe, Bula e Boxó, que capitaneavam o Bangu de
Tunísia. Craques do Sertão. Muito além de dirigentes, pessoas outras, como
Fransquinho Pereira, Seu Luíz, Lídio, Tochinha, Ribamar Peba, que dão um
sentido à vida pelo futebol, embalado pelo rádio, chegando ao lúdico e
vivenciando com fantasia os sentimentos, rudes e nobres, que nos ligam tão
intensamente pelo esporte.
Vi as
pelejas do Viana no dia a dia, o esforço para colocar o programa no ar. As
rebeldias com as emissoras, com as chamadas ¨otoridades¨, com quem trava
pelejas menos estimulantes, e a quem nada deve, com o agravante da tentativa de
alguma medida ser passada como favor.
Nosso
rádio ainda pode ser melhor, lembrando desse aspecto. Na medida em que vemos um
Viana amigo dos chamados dirigentes, sendo todos, antes de desportistas, uma
palavra bem gasta em tempos de voto, vibradores da folia que é o radiofutebol,
se me permitem a invenção, por essa noite estarmos falando de um inventor.
Viana tem alguns rumos no formato esportivo, mas nunca uma camisa de força. Por
vezes o radialista é radicalmente experimental. Foi através dele que conheci
Luiz Pereira, a quem ele dedicou um programa quase completo, informando aos
ouvintes que naquele dia seriam brindados por artista diferenciado. Sons da
memória que carreguei e, juntos com os amigos do Iphanaq, outros tantos, que
puderam e podem agora ouvir o Rabeca Pereira.
Viana
mostrou ideias e rabiscos para um projeto escrito, livro ou revista. Mesmo com
a ajuda do David, talvez pela intensidade da oralidade, no rádio, tenha
dificuldades para colocar no papel, um tanto hiperativo que é. Mais parece
Viana com um ponta direita, Garrincha, ou mesmo Xerém, do Flamengo de Qunim, do
que com a calma de Geson, ou Neto Sabugo, para lembrar ao nosso
imaginário.
Digo
isso, brincadeira à parte, para que, pelo encontro de hoje, vejamos qual a
melhor jogada para a escrita da voz, fazendo com que as estórias cheguem a
outros leitores e se tornem eternas.
Talvez
algum bom jogador que digite o que o treinador Viana possa ditar.
Alô
Viaaaana! Parabéns a Você e ao Papo Cultural!
Grande
abraço, Danilo
Comentário de Artur
Costa- Papo Viana Filho
Alô Viana!
De 1982 a 1987, período recortado dos quatorze anos
em que o papai foi presidente do CMDQ- Conselho Municipal de Desporto de
Quixeramobim, fui, sem exagero, a quase todas
as partidas disputadas no campeonato de futebol local.Quando não ia, assistia de cima do muro, na divisa com o quintal da nossa casa. "aí é verminoso!", me provocava o Edilson Barbeiro, no sol quente das preliminares às três da tarde ou nas rajadas de poeira e cal arrastadas pelo aracati.
Ler o que escreveste sobre/para o vianinha me fez recordar que ir ao carneirão naquele tempo, dentre outras coisas, era encontrar a dona Quilôr? Sentada atrás do gol em seu banquinho, com rádio no ouvido e guarda-sol em punho, ver a preocupação com a celeridade estampada pelo nonato do placar na hora da cobrança de um pênalti com a placa do número do iminente gol semi encaixada para não haver atraso na informação aos torcedores presentes, ver o patola circular pacificamente pelas torcidas rivais, sentir o cheiro e saborear o espetinho de carne assada pelo Aprígio, com uma coca gelada.
as partidas disputadas no campeonato de futebol local.Quando não ia, assistia de cima do muro, na divisa com o quintal da nossa casa. "aí é verminoso!", me provocava o Edilson Barbeiro, no sol quente das preliminares às três da tarde ou nas rajadas de poeira e cal arrastadas pelo aracati.
Ler o que escreveste sobre/para o vianinha me fez recordar que ir ao carneirão naquele tempo, dentre outras coisas, era encontrar a dona Quilôr? Sentada atrás do gol em seu banquinho, com rádio no ouvido e guarda-sol em punho, ver a preocupação com a celeridade estampada pelo nonato do placar na hora da cobrança de um pênalti com a placa do número do iminente gol semi encaixada para não haver atraso na informação aos torcedores presentes, ver o patola circular pacificamente pelas torcidas rivais, sentir o cheiro e saborear o espetinho de carne assada pelo Aprígio, com uma coca gelada.
Lembrei-me também das
infrutíferas discussões que eu travava com o Viana Filho, então repórter de
pista da cristal e fervoroso torcedor do Ferrim, sempre após um clássico entre
o time dele e o nosso alvinegro.
Naquele tempo o ferroviário
ainda ganhava alguma coisa. então, quando isso acontecia, ele tirava uma
onda danada de mim, do meu pai e de qualquer outro alvinegro que estivesse por
perto. se não sabes, a preferência dele pelo clube coral foi herdada do
Viana pai, funcionário da REFFSA, colega de trabalho do meu avô? João e nosso
vizinho quando moramos na treze de junho.
Se tivesse hoje que apontar uma
característica profissional do Viana naquela época, diria que ele era muito bem
informado, sempre com uma novidade a nos contar. coisas do tipo “o Denir
assinou cruzeiro”, “o flamengo vai trazer o grilo pro jogo da final”. “O mocó
não vai jogar porque se contundiu no treino de ontem no Uruquê” ou “o barriga
não pode ser inscrito no campeonato desse ano porque jogou profissional pelo Quixadá
no ano passado”.
Lamento não ter participado
desta edição do papo cultural, oportunidade rara para rememorar com o convidado
alguns dos pitorescos casos presenciados naqueles tempos de carneirão, como o
gol contra marcado pelo goleiro do são paulo da maravilha, que jogando contra
um forte vento, bateu um tiro de meta tipo chutão para o alto e a bola voltou
para cair dentro da meta que defendia.
Sobre o futuro livro, tabelinha
Viana/Bruno,fico muito honrado com a possibilidade de contribuição na
programação visual do mesmo. logo que precisarem, estarei a disposição.
Parabenizo o Iphanaq pelo papo
cultural, projeto este que considero um dos mais importantes dentre tantos
outros desenvolvidos por esta séria e comprometida organização.
Abraço,
Artur Costa
Textos: Neto Camorim ,Danilo Patrício e Artur Costa
Fotos: Elistênio Alves, Edmilson Nascimento e Neto Camorim
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