quarta-feira, 2 de maio de 2012

VIANA FILHO E OS CAUSOS DO FUTEBOL DE QUIXERAMOBIM SÃO DESTAQUES NO PAPO CULTURAL




Foi realizado no último dia 27 de abril, na casa de Antonio Conselheiro, como sempre acontece na última sexta feira de cada mês, mais uma apresentação do projeto Papo Cultural. Que desta vez, recebeu como convidado na sua 16ª edição, o radialista esportivo Viana Filho (O Vianinha), que há 44 anos dedica seu trabalho ao futebol de Quixeramobim. É o cronista esportivo com mais tempo na atividade no município. Tem um conhecimento vasto sobre as histórias do futebol local.
Inicialmente, o historiador Neto Camorim, fez uma rápida apresentação do convidado, falando da alegria de recebê-lo no projeto, e em seguida passou o comando do evento para o coordenador do Papo Cultural, Bruno Paulino, que fez a mediação durante a apresentação do convidado.
Na primeira parte de sua apresentação, Viana Filho falou da sua chegada em Quixeramobim nos meados de 1960, vindo de Quixadá sua terra natal, e quando aqui chegou começou a trabalhar de operador de rádio, e em seguida, 1968 começou a atuar como locutor esportivo na Difusora Cristal, onde continua até o momento. Como bem faz questão de frisar no seu programa esportivo. “promovendo o futebol e o esporte de Quixeramobim”.
            Fez questão de destacar no papo cultural, sua paixão pelo Ferroviário Atlético Clube (O Ferrão), como o chama carinhosamente e a Rádio Difusora Cristal. Ressaltou que trabalhou em várias emissoras aqui no sertão central e até fez estágio na Rádio Verdes Mares em Fortaleza, mas sempre voltou para a Cristal. A pioneira da região.
Na segunda parte, Viana falou sobre o futebol de Quixeramobim nos anos de 1980, em especial 1989, quando o município foi campeão do intermunicipal, da rivalidade entre cruzeiro e flamengo, que na época as torcidas dividiam a cidade. Além dos torneios que promove na cidade e interior, a copa cristal e mais recentemente o campeonato dos evangélicos. Segundo Viana, a Copa Cristal é o maior campeonato de futebol do interior cearense.
No terceiro bloco, destacou vários causos, histórias e lambanças que envolveram diversos personagens do futebol de Quixeramobim, dentre eles o Joli, Boquita, Maurício, Catolé, Rama, Turica, Tachiquim, Bozó, Edilson Barbeiro (in memória), Laudelino de Algodões, Tarcísio da Cacimba Nova, entre outros. Na sua maioria são episódios bem engraçados, o que levou o público presente ao papo cultural darem boas risadas.
Viana Filho ainda comentou sobre os avanços e dificuldades que ainda enfrenta o futebol de Quixeramobim, mesmo hoje tendo uma secretaria municipal de esportes, ainda precisa fazer muito mais por essa juventude principalmente, tão carente de atividades esportivas saudáveis. Frisou.
Para finalizar o evento, Ailton Brasil, presidente da Ong Iphanaq, agradeceu a presença de todos e de maneira especial o convidado Viana Filho, que recebeu uma menção honrosa da instituição, entregue pela geógrafa Terezinha Oliveira. Em seguida, Bruno Paulino leu uma mensagem (via e-mail) enviada pelo jornalista e integrante do Iphanaq Danilo Patrício ao radialista Viana Filho, que reproduzimos em anexo.


Mensagem de Danilo Patrício, para Viana Filho

Bruno, uso seu telefone modernoso para cumprimentar a todos, lamento não estar presente nesse encontro e ao mesmo tempo manifesto minha alegria em saber do convidado no Papo Cultural de hoje, iniciativa já vitoriosa e tão importante, desenvolvida de modo valoroso pelos militantes e amigos da ONG Iphanaq e turma do Ponto Patrimônio Vivo.

Satisfação saber de Viana Filho na Casa Conselheiro. Um repórter visceral e um agitador cultural, no mais intenso que essa expressão possa propagar. Aquele que agita a vida inventando coisas, mais notadamente pelo futebol, que faz projetar num espaço entre o profissionalismo por nós sonhado, distantes dos centros econômicos, e respondido com nossa interpretação matreira na forma de arte, que permite interpretar vestindo uniformes. Vestimentas que dão um caráter simbólico e importante ao trabalhador braçal, a maioria que faz o futebol em cidades e povoados como os nossos, espalhados pelo Brasil.

Alô Viaaaana, gritava com bom humor o Capivara, Raimundo Nonato Monteiro e Silva, nosso amigo em comum, de quem fui colega de sala, no início dos anos 1990, e que comandava a mesa de som da Campo Maior com competência.

Já viciado em rádio, ou na voz!, criei coragem para participar do Bate Rebate, que Viana produzia nas tardes de domingo, antes do Futebol. Dois ouvintes se desafiavam nas perguntas feitas pelo radialista, que alguns já, para importuná-lo, chamavam de ¨Repórter Perna Fora do Esquadro¨!
Empatei com o participante que vinha ganhando já há algumas rodadas: 3x3 no placar. Desconfio até hoje que cheguei ao resultado com uma leve ajuda do Viana, que, como observei depois, ao ir para o Carneirão, parava para beber água e conversar com meu avô, Expedito, de quem o pai dele, Seu Viana, já era amigo de outras palestras, como diziam os mais antigos. O concorrente, caminhoneiro que virou amigo, Erialdo, era do Riacho da Cruz, onde nasceu meu outro avô, José, e o pai dele, Salviano Patrício. Não sei se coincidência, mas a trilha dos afetos se fazia e de outras formas me acompanhariam rádio e futebol, marcados por uma memória tão marcante que se ligam ao Viana Filho, assim como muitos de nós que o ouvimos e em nós moldamos esse personagem.

O placar do Bate rebate foi de 3X3. Acho até que o programa acabou depois. Acontecia na primeira sede da Campo maio, onde hoje funciona a Antena Centro. Viana incumbiu Capivara de me convencer a fazer parte da equipe esportiva, à época na Campo Maior, ainda que precisasse insistir muito. E assim o fez, pela minha timidez e desentendimento sobre o convite.

O fato é que fui, meio desconfiado, e bem recebido por ele e outros radialistas, onde muito aprendi da vida. Tive lá meu primeiro salário, ou ganhos resultantes dos patrocinadores, o que ajudava a pagar o colégio que eu frequentava à noite, em Quixadá, durante o 1o e 2o ano do segundo grau.
Alô Viaaaana!

E o acompanhei valente batendo com veemência em sua máquina de datilografar, que fazia com habilidade, divulgando com esmero os campeonatos que continua a organizar. Fui a alguns deles, como em Tunísia, onde fomos recebidos com fartura e ternura pelos irmãos Pepe, Bula e Boxó, que capitaneavam o Bangu de Tunísia. Craques do Sertão. Muito além de dirigentes, pessoas outras, como Fransquinho Pereira, Seu Luíz, Lídio, Tochinha, Ribamar Peba, que dão um sentido à vida pelo futebol, embalado pelo rádio, chegando ao lúdico e vivenciando com fantasia os sentimentos, rudes e nobres, que nos ligam tão intensamente pelo esporte.

Vi as pelejas do Viana no dia a dia, o esforço para colocar o programa no ar. As rebeldias com as emissoras, com as chamadas ¨otoridades¨, com quem trava pelejas menos estimulantes, e a quem nada deve, com o agravante da tentativa de alguma medida ser passada como favor.

Nosso rádio ainda pode ser melhor, lembrando desse aspecto. Na medida em que vemos um Viana amigo dos chamados dirigentes, sendo todos, antes de desportistas, uma palavra bem gasta em tempos de voto, vibradores da folia que é o radiofutebol, se me permitem a invenção, por essa noite estarmos falando de um inventor. Viana tem alguns rumos no formato esportivo, mas nunca uma camisa de força. Por vezes o radialista é radicalmente experimental. Foi através dele que conheci Luiz Pereira, a quem ele dedicou um programa quase completo, informando aos ouvintes que naquele dia seriam brindados por artista diferenciado. Sons da memória que carreguei e, juntos com os amigos do Iphanaq, outros tantos, que puderam e podem agora ouvir o Rabeca Pereira.  

Viana mostrou ideias e rabiscos para um projeto escrito, livro ou revista. Mesmo com a ajuda do David, talvez pela intensidade da oralidade, no rádio, tenha dificuldades para colocar no papel, um tanto hiperativo que é. Mais parece Viana com um ponta direita, Garrincha, ou mesmo Xerém, do Flamengo de Qunim, do que com a calma de Geson, ou Neto Sabugo, para lembrar ao nosso imaginário. 
Digo isso, brincadeira à parte, para que, pelo encontro de hoje, vejamos qual a melhor jogada para a escrita da voz, fazendo com que as estórias cheguem a outros leitores e se tornem eternas. 
Talvez algum bom jogador que digite o que o treinador Viana possa ditar. 

Alô Viaaaana! Parabéns a Você e ao Papo Cultural!

Grande abraço, Danilo








Comentário de Artur Costa- Papo Viana Filho
Alô Viana!
De 1982 a 1987, período recortado dos quatorze anos em que o papai foi presidente do CMDQ- Conselho Municipal de Desporto de Quixeramobim, fui, sem exagero, a quase todas
as partidas disputadas no campeonato de futebol local.Quando não ia, assistia de cima do muro, na divisa com o quintal da nossa casa. "aí é verminoso!", me provocava o Edilson Barbeiro, no sol quente das preliminares às três da tarde ou nas rajadas de poeira e cal arrastadas pelo aracati.

Ler o que escreveste sobre/para o vianinha me fez recordar que ir ao carneirão naquele tempo, dentre outras coisas, era encontrar a dona Quilôr? Sentada atrás do gol em seu banquinho, com rádio no ouvido e guarda-sol em punho, ver a preocupação com a celeridade estampada pelo nonato do placar na hora da cobrança de um pênalti com a placa do número do iminente gol semi encaixada para não haver atraso na informação aos torcedores presentes, ver o patola circular pacificamente pelas torcidas rivais, sentir o cheiro e saborear o espetinho de carne assada pelo Aprígio, com uma coca gelada.
Lembrei-me também das infrutíferas discussões que eu travava com o Viana Filho, então repórter de pista da cristal e fervoroso torcedor do Ferrim, sempre após um clássico entre o time dele e o nosso alvinegro.
Naquele tempo o ferroviário ainda ganhava alguma coisa. então, quando isso acontecia, ele tirava uma onda danada de mim, do meu pai e de qualquer outro alvinegro que estivesse por perto. se não sabes, a preferência dele pelo clube coral foi herdada do Viana pai, funcionário da REFFSA, colega de trabalho do meu avô? João e nosso vizinho quando moramos na treze de junho.
Se tivesse hoje que apontar uma característica profissional do Viana naquela época, diria que ele era muito bem informado, sempre com uma novidade a nos contar. coisas do tipo “o Denir assinou cruzeiro”, “o flamengo vai trazer o grilo pro jogo da final”. “O mocó não vai jogar porque se contundiu no treino de ontem no Uruquê” ou “o barriga não pode ser inscrito no campeonato desse ano porque jogou profissional pelo Quixadá no ano passado”.
Lamento não ter participado desta edição do papo cultural, oportunidade rara para rememorar com o convidado alguns dos pitorescos casos presenciados naqueles tempos de carneirão, como o gol contra marcado pelo goleiro do são paulo da maravilha, que jogando contra um forte vento, bateu um tiro de meta tipo chutão para o alto e a bola voltou para cair dentro da meta que defendia.
Sobre o futuro livro, tabelinha Viana/Bruno,fico muito honrado com a possibilidade de contribuição na programação visual do mesmo. logo que precisarem, estarei a disposição.
Parabenizo o Iphanaq pelo papo cultural, projeto este que considero um dos mais importantes dentre tantos outros desenvolvidos por esta séria e comprometida organização.
Abraço,
Artur Costa










Textos: Neto Camorim ,Danilo Patrício e Artur Costa
Fotos: Elistênio Alves, Edmilson Nascimento e Neto Camorim

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