Representada
pelos seus integrantes João Paulo Barbosa, Elistênio Alves e Neto Camorim, em
companhia do radialista Paulo Simião e motorista Gilvan, a Ong. Iphanaq (Instituto
do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Quixeramobim) participou de 19 a
20 de outubro, da 25ª Romaria de Canudos. Localizado no nordeste baiano,
distante 400 km de Salvador e 750 km de Quixeramobim, no sertão central
cearense, terra onde nasceu Antonio Conselheiro em 1830.
A Romaria
de Canudos deste ano teve como tema: Canudos: uma história de fé e luta, com o
objetivo de rememorar os 25 anos de caminhada do povo de Canudos e região. Cortada
pelo rio do Vaza Barris e situado as margens do açude Cocorobó, o povo tem
lutado durante todo esse período, por terra livre das amarras do latifúndio,
democratização da água de qualidade, educação, cultura, saúde e desenvolvimento
local sustentável. Enfim, a romaria é um momento de reflexão de que só com
mobilização popular, a dignidade humana acontece para os sertanejos mais
pobres. Assim defendia Conselheiro no século XIX. É por isso que sua memória
continua viva na luta do povo que se organiza para reivindicar seus direitos.
Segundo
Padre Ednaldo, pároco de Canudos, sempre se escolhe um tema inserido na realidade
do sertanejo para refletirmos a luz da fé a luta do povo. “Em 2012 estamos enfrentado uma das piores seca nos últimos 40 anos no
sertão da Bahia. Então devemos aproveitar esse momento para discutirmos a
pobreza e a exclusão social que ainda persiste no semiárido nordestino. As
políticas públicas continuam paliativas sem soluções definitivas. Por que isso
ainda acontece? Devemos aproveitar a romaria para pensar e agir coletivamente,
como nos ensinou Antonio Conselheiro ao formar o Arraial do Belo Monte. Ele que
saiu de Quixeramobim peregrinando por esse sertão, juntando sertanejos para
organizar Canudos sempre usou a mística da fé e da luta para a construção de
uma vida melhor para os pobres, que por alguns anos se concretizou. Não foi uma
utopia como muitos dizem.” Destacou o Padre.
Por tais razões que a luta de Conselheiro e
seus seguidores incomodou tanto os governos, os latifundiários, o exército e a
Igreja da época. Todas essas instituições se uniram para destruir Canudos, que
resistiu bravamente quatro expedições. Foi um massacre, um genocídio com o povo
de Canudos, e até hoje o Estado Brasileiro não reconheceu. A Romaria de Canudos
anualmente procura rememorar esses fatos históricos. É a luta do povo e o
exemplo de Conselheiro, em defesa do povo pobre do sertão.
A
programação da romaria teve início na sexta feira dia 19 com a abertura de uma
exposição sobre Conselheiro era Guerra de Canudos, no Memorial Antonio
Conselheiro administrado pela UNEB (Universidade do Estado da Bahia). Durante
os três dias do evento esteve aberta a visitação dos estudantes das escolas de
Canudos e região, além professores, escritores fazendo lançamento e venda de
livros e o público em geral. 19h, no teatro do Memorial Antonio Conselheiro,
foi apresentada a peça “Melelego”- produção da companhia de teatro local, com o
apoio da UNEB, através do Projeto Canudos.
No sábado dia
20, a programação reiniciou as 9:30h com a realização do Fórum de
Desenvolvimento Local Sustentável. É um espaço democrático, onde os representantes
da sociedade civil organizada de Canudos e municípios vizinhos se reúnem
periodicamente para debaterem seus problemas e buscarem possíveis soluções. Coordenado pela Universidade do Estado da Bahia, com
o apoio de mais de quarenta organizações, o Projeto Canudos envolve uma equipe
multidisciplinar e institucional, com pesquisas realizadas em diversas
dimensões, cujo objetivo é desenvolver a região, capacitar moradores
e preservar o patrimônio histórico e cultural.
O foco deste Projeto é contribuir para o incremento sustentável da
região, a partir das potencialidades locais, tais como turismo histórico,
agricultura irrigada e de sequeiro, a pesca e a piscicultura, a educação
para a convivência com o semiárido e as manifestações culturais. Tem como
princípio norteador o desenvolvimento local integrado e sustentável, visando
promover o reordenamento do uso do espaço, melhorar a equidade social e o
acesso aos recursos.
Nesta
atividade os integrantes da comitiva de Quixeramobim tiveram oportunidade de
participar e em suas falas, enfatizaram a possibilidade de uma maior
aproximação entre Quixeramobim e Canudos envolvendo o tema Conselheiro e outras
questões históricas e culturais de interesse dos dois municípios.
Diante
dessa perspectiva, Neto Camorim conversou informalmente com o Pró- Reitor de
Planejamento da UNEB, Luis Paulo Neiva, que coordena as ações da Universidade
em Canudos (Parque Estadual e Memorial e a articulação do Fórum de
Desenvolvimento Local, através do Projeto Canudos, o mesmo se mostrou muito
receptivo a idéia e disse que a UNEB está disposição para colaborar.
A
programação teve continuidade às 15h com uma visita ao Parque Estadual de
Canudos- PEC, guiada por 23 alunos que participaram das três oficinas de
formação de guias turísticos na cidade, ministrada por Edna Rodrigues, diretora
técnica em Promoção Humana e Desenvolvimento Social, da Secretaria do Turismo
do Estado da Bahia.
Esta
visita além da presença dos turistas que estavam visitando Canudos durante a
romaria, teve também a participação de caravanas de várias cidades da região.
Paulo Afonso, Cícero Dantas, Jeremoabo, Uauá, Juazeiro da Bahia, Macururé, etc.
Além de escritores e pesquisadores que aproveitaram o período da romaria para venderem
seus livros, além de artesãos comercializando seus produtos.
Criado em 1986 o parque estadual compreende uma área de 1.321 hectares, e Constituiu-se
no palco principal de acampamentos militares, da presença conselheirista e de
violentos combates, abrigando valiosos sítios históricos, arqueológicos e
antropológicos.
Recentemente foi implantada uma nova exposição fotográfica
com painéis em vidro de diversos tamanhos, que chegam até 4m de altura, com
fotografias de inúmeros e renomados fotógrafos que retrataram a Guerra de
Canudos, os seus remanescentes e descendentes de conselheiristas. Além das
fotos pode-se encontrar o mapa da região do conflito e gravuras com imagens
sertanejas. É importante ressaltar, que a entrada do Parque foi pavimentada com
asfalto ligando a rodovia ao portal de entrada para facilitar a visitação e
para maior conforto de todos que desejarem visitar e conhecer o CENÁRIO DA
GUERRA DE CANUDOS.
No sábado à noite a partir das 20h na Escola
Jário Ave aconteceu uma mesa redonda, onde foram discutidos os problemas que atualmente
ainda afligem Canudos e traçarem possíveis soluções, além de apresentar o que
está sendo feito para superar essas dificuldades. Como também fazer uma
retrospectiva do que foi feito nesses 25 anos de caminhada do povo, tendo como
luz a fé e a luta de Antonio Conselheiro.
A mesa redonda teve como convidado o professor
Luis Paulo Neiva, Pro - reitor de Planejamento da UNEB e padre Wilson,
pesquisador de Conselheiro. Após a fala dos mesmos, aconteceu um importante
debate, onde o integrante da ONG. Iphanaq, Neto Camorim, fez uma intervenção
falando da importância dessa integração entre Canudos e Quixeramobim. Frisou
que Conselheiro já fez isso no passado, e hoje compete a nós através de nossas
ações, com a participação da Igreja, Universidade e da Sociedade Civil
organizada, trilhar esse caminho. É desafiador mais possível de se construir
uma sociedade mais justa, com diminuição da pobreza. Após o debate deu-se
início a noite cultural, com apresentações teatrais e show musical com Ismael e
banda. Ale da participação de artistas locais e da região.
No domingo, dia 21, a partir da 5h da manhã
aconteceu à alvorada acordando os moradores da cidade e visitantes a saírem em
caravana até a Velha Canudos (hoje Alto Alegre) para participarem da missa de
encerramento da 25ª Romaria as margens do açude Cocorobó. Que de tão baixo o
seu volume de água devido à grande seca, estando apenas com 1/3 de sua
capacidade, às ruínas da Igreja Nova estão aparecendo. Quanto o açude está
cheio elas ficam submersas.
Segundo Elistênio Alves que estava visitando
Canudos pela primeira vez, “participar da
romaria foi um momento valioso e enriquecedor culturalmente e historicamente.
Deu para perceber que mesmo após 115 anos da destruição de Canudos, Conselheiro
continua vivo na luta do povo baiano e de todo o sertão nordestino. Hoje ele é melhor
compreendido e aos poucos vai deixando de ser tratado de fanático, um louco, um
monarquista e outros adjetivos que sempre lhes foram atribuídos. Espero que
Quixeramobim sua terra natal, não o expulse novamente, como fez no século XIX,
e passe de fato conhecer e valorizar a historia desse homem. Um dos lideres mais estudados em nosso país e no
exterior”. Destacou.
Texto: Neto Camorim
Fotos: Elistênio Alves e João Paulo Barbosa
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