No último dia 14 de novembro, o grupo de
leitura “sertões e memórias” se reuniram na casa de Conselheiro para discutir
sobre a expedição Moreira Cesar. Terceiro combate enviado pelo governo da república
para destruir Canudos, narrado por Euclides da Cunha nos “Sertões”. Acompanhe a
seguir o texto produzido pelo professor João Paulo Barbosa.
Vamos
almoçar em Canudos! (?)
É preciso pensar no que se vai ter como
cardápio, antes de sair bradando certas fomes sertões adentro. Acompanhamos a expedição
de Moreira Cesar. Acompanhamos o louco, o doente, o corta cabeça: este homem é
o cão, é o filho do cão!
Sofria
epilepsia
Era
o tipo do Satanás
Tanto
matava na luta
Quanto
matava na paz
Quando vinha à capital
Era o espectro do mal
O medo, feroz e brutal.
(José
Aras)
A 3ª Expedição. Partiu do Rio de Janeiro,
com 1.300 homens, em 03 de fevereiro de 1897, comandados pelo Cel. Moreira
César. Dia 2 de março, sem um plano tático, a tropa entrou e atacou o arraial,
perdendo-se naquele labirinto. Moreira César foi mortalmente ferido, com duas
balas, morrendo no dia seguinte. Foi substituído pelo Coronel Pedro Nunes
Tamarindo. A tropa fragmentou-se, dispersou-se, debandaram-se em pânico,
desfazendo-se de armas e munições, recolhidas pelos jagunços. O corpo de
Moreira César foi jogado no caminho. Quando atravessava o córrego de Angico,
querendo conter seus homens, o Cel. Tamarindo foi morto. Morreu, também, o
comandante, Cap. José Agostinho Salomão da Rocha. Comoção nacional. "A
República estava em perigo". Os cabras que mais tinham “moral” no exército
morreram. Para onde ir? A quem seguir? A quem ouvir?
Moreira
César foi ao céu
Com
Tamarindo ao seu lado
São
Pedro falou assim:
“Ó
que cara de malvado!”
Tamarindo
entristeceu
São
Pedro assim respondeu:
“Espere
mais um bocado.”
E
disse a Moreira César
Pra
seu ódio não há perdão
Forte
orgulhoso no mundo
Não
terás a salvação
Volte
lá para a terra
Vá
cuidar de sua guerra
No
reino da escuridão
(Afranio Peixoto)
Ora, ora! Segundo o Bruno, voltando aos
encontros, Tim Burton piraria no cenário armado pelos jagunços no meio da
caatinga: cabeças e corpos pra tudo que é lado. Macabro. Sinistro. Conseqüência
da loucura do corta cabeças? Talvez. Mas talvez a loucura maior fosse à de quem
o enviou a Canudos, segundo o escritor Oleone Coelho Fontes, a quem tivemos o
prazer de conhecer na viagem a Canudos, único biógrafo de Moreira Cesar. O louco
agarrou com unhas e dentes, literalmente, a causa de Canudos e queria a todo
custo almoçar por lá. Foi almoçado pelas condições geográficas, climáticas,
falta de estratégia e, por último, pelas balas dos jagunços conselheiristas,
embora não se tenha certeza disso.
Capitão Moreira César
Chama-se corta pescoço
Veio agora nesta guerra
Deixar no sertão o osso
Coronel Moreira César
Moradô do rio do sul
Foi dá fogo nos Canudos
Pra dá carne aos urubus.
(Afranio Peixoto)
Pois bem, o “doente” Moreira César foi o mote maior pra nossa conversa
desse dia 14 de Novembro de 2012 na casa do Velho Profeta, cujas poucas
lembranças em sua terra-mãe estejam caídas como o corpo seco do epilético.
Avante! Até o próximo encontro no dia 13 de dezembro.
Texto: João Paulo Barbosa
Fotos: Edmilson Nascimento
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