Foto: Elistênio Alves |
Getúlio, uma pessoa singular, discreto, chega à Casa do Conselheiro pouco tempo antes do horário previsto para o início do Papo. “Nos bastidores” algumas conversas, histórias contadas de uma cidade com personagens espetaculares que estão por aí palavreadas de boca em boca, mas que vêm à tona nas vozes desses guardadores de memórias coletivas de nossa cidade.
Aos poucos chega um, chega outro e o Papo começa. Um pequeno público, para a alegria de nosso ilustre convidado que, fora do estúdio, confessa sua timidez. Mas com maestria nos remete à cidade de Quixeramobim dos anos 50 e 60, da Radiadora Voz de Cristal ao recebimento das mãos de um emissário acompanhados da Polícia Federal a tão sonhada licença para o funcionamento da Rádio difusora Cristal. “Era o dia 5 de fevereiro de 1968, quando a concessão foi assinada pelo Castelo Branco”. Como era em tempos da Ditadura Militar, toda semana tinha fiscalização para evitar que a rádio tocasse as músicas fora da relação deixada pelos militares. Portanto, tinha uma lista das músicas que eram proibidas.
Escolhas - Segundo Getúlio, antes de se tornar uma emissora de rádio, a Voz de Cristal, funcionava em determinados horários com um serviço de alto-falante, com caixas colocadas em locais estratégicos da cidade, sempre de muita utilidade pública. Sobre sua vida toda dedicada ao rádio, lembrou que, na época em que iniciou sua vida radiofônica, tinha passado na primeira fase para cursar medicina, porém, nesse intervalo, veio pra Quixeramobim e iniciou o trabalho na rádio, desistindo do curso que ainda hoje é tão cobiçado pela maioria de nossos jovens.
Getúlio destacou ainda a qualidade do acervo musical da emissora, que não deixa a desejar a nenhuma outra no país, tendo em seu estúdio a primeira música gravada no Brasil, além de ter mais de quatro mil discos de cera, que hoje são uma raridade. Indagado sobre o gosto pela música, lembrou que morava bem ao lado do estúdio da radiadora e assim não teve como não gostar daquele universo musical.
“A Radio Difusora Cristal faz parte da História de Quixeramobim”, comenta Getúlio e relembra ao mesmo tempo a luta de seu pai, Fenelon Câmara, que ao longo da vida fez de tudo para manter a emissora no ar. Getúlio orgulha-se da rádio nunca ter sido punida por irregularidades, seja de caráter político ou não. E afirma ainda: “deixo todo mundo falar na rádio, desde que não fale de ninguém”.
Êxitos - Durante todo o tempo foram momentos de idas e vindas à história da emissora, e em alguns momentos de muita emoção, como se vê quando Getúlio relembra fatos importantes, em alguns momentos pitorescos que arrancavam boas gargalhadas nos presentes. Público que, ao mesmo tempo, interpelava o convidado praticamente durante todo o Papo. E, é claro, houve várias inserções dos presentes sobre os dois principais programas em que Getúlio comanda e comandou: Agenda Policial e Discoteca da Amizade. Para Getúlio, o sucesso do programa, em sua modéstia, está muito mais ligado à assiduidade do que propriamente ao apresentador. Quanto à Discoteca da Amizade, pensa em voltar a transmitir, num formato diferente, já que os tempos são outros.
Durante o debate, quando perguntado se seu nome era em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, ele confirmou a homenagem, e disse que tem uma carta que foi respondida por Darcy Vargas confirmando o apadrinhamento. Ainda durante o debate, Getúlio falou um pouco de sua carreira política e dos percalços que enfrentou quando foi presidente da Câmara Municipal de Quixeramobim.
Ao encerrar, Getúlio recebeu uma menção honrosa pela sua presença ao evento, agradecendo por ela e pelo convite, dizendo estar “muito satisfeito em poder participar do Papo Cultural”, colocando-se à disposição para outros momentos.
Ailton Brasil- Historiador e Presidente da ONG Iphanaq
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