Depois de três encontros do grupo de leitura “Sertões e Memórias”, na casa de Conselheiro, nos dias 13, 27 de abril e 11 de maio, o quarto encontro aconteceu no dia 25 de maio as margens do rio Quixeramobim, no Poço Grande. Acompanhe a seguir texto produzido pelo coordenador do grupo de leitura, João Paulo Barbosa.
Arrumamos nossas cargas e
arribamos sábado á tarde rumo ao Poço Grande, raízes do Brasil. Motivo? Era a
seca d’O Quinze da Rachel de Queiroz que nos esperava para mais um deleite de
leitura à sombra da oiticica nas margens do Poço Grande, reduto de pescadores e
admiradores da natureza. Mas, ao andar pela estrada percebemos que tá tudo
verdinho em flor, tudo fresco: os pés de canapum, marmeleiro, malva, velame, os
“passarin” cantando mais alegremente, as águas de maio correndo nas grotas nas
beiras da estrada, as vacas mais gordas e felizes, enfim...
E lá sentamos, depois de
molharmos os pés nas águas do riacho escorregando nas pedras em lodo, com O Quinze debaixo do braço e as Vozes da Seca, do velho
Lula, na caixinha de som pra dar um tom de poeticidade à prosa da Rachel no
início das falas. Então, começamos. Apesar de todo aquele frescor trazido pelas
chuvas citado acima, a tristeza da parte mais trágica do romance nos comove e
nos faz lembrar sertões adentro e a fora daqui mesmo do nosso Quixeramobim.
Rachel é muito profunda.
Faz o leitor mergulhar de cabeça, alma e coração nas profundezas da alma
sertaneja, sofredora, que sai do seu torrão buscando a sobrevivência. É a
marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus cinco
filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde
trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para
atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo
borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo,
come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem
descrito nessa passagem: "Lá se tinha ficado o Josias, na
sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo
pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha
mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco,
à sombra da mesma cruz."
Tudo isso nos remeteu aos sertões mais
longínquos e, ao mesmo tempo, perto de alguns de nós que ainda vivemos um
pedaço deles. Nada ali naqueles tempos não tão remotos interessava nada tinha
mais importância do que a comida e a água para a sobrevivência. Veio o ser-tão
de dentro para fora de nós para explicarmos àquela galera mais jovem presente
no encontro como foi que o sertão se transformou no que é hoje.
Assim, demarcamos do capítulo 15
(parece que tudo gira em torno deste número) até o final do livro, para o dia
15 (num tou dizendo?!) de Junho, após os festejos do Santo Casamenteiro de Portugal
pros sertões de Quixeramobim. E depois, “Não me deixes” não nos deixará
esperando por muito tempo: tomaremos um café na varanda com a Rachel de Queiroz
nos sertões do Quixadá, (com licença histórico-poética) distrito aqui de
Quixeramobim.
João
Paulo Barbosa -
coordenador do grupo de leitura “Sertões e Memórias”.
Texto: João Paulo Barbosa
Fotos: Ailton Brasil e Elistênio Alves
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