segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

ASSIM NA VIDA, COMO NA MORTE.


Por mais de cem anos, os sepultamentos em Quixeramobim, eram realizados dentro da Igreja Matriz e outros templos. Porém, existia uma distinção para realizar os sepultamentos, que era definido de acordo com a importância e condição social do falecido.
Os túmulos de “grade acima” eram destinados aos chamados “homens bons”, os ricos da classe dominante composta de grandes fazendeiros, políticos de influência e pessoas abastadas de um modo geral. Os padres, por outro lado, constituíam a elite dessa estratificação, se assim podemos chamar, a eles eram reservados os altares.
Essa prática era comum em toda localidade que tivesse pelo menos uma capela e aqui não poderia ser diferente. Vale salientar, que muitos deixavam em seus testamentos e inventários, o desejo de serem enterrados dentro de uma igreja. Com o passar do tempo, esse costume começou a causar incômodos e inconveniências, devido ao forte cheiro de corpos em decomposição, que exalavam das sepulturas, atrapalhando as atividades religiosas e até mesmo, o desenvolvimento urbano em torno da Igreja Matriz e da Igreja do Bonfim. Era proibido construir moradias nesse trecho da cidade, pois existia o receio de que as pessoas poderiam adoecer, devido à inalação constante e dos ventos que espalhavam a podridão.
Foi então, que em 1854, o padre coadjutor da Paróquia de Santo Antônio, José Jacinto Bezerra Borges de Menezes, é dado o início a construção do cemitério. Fato que mexeu com o imaginário popular, pois as pessoas da época acreditavam que só teriam “salvação”, se fossem sepultadas numa igreja. Mas com o poder de convencimento do religioso, logo ele conseguiu a adesão do povo e a construção tomou ares de mutirão e cada um contribuía como podia. Quem não podia doar material de construção, doava horas de serviços, carregando areia e pedra do rio Quixeramobim para erguer os muros do cemitério e a Capela de Nossa Senhora do Carmo.
Depois da construção, foi dado permissão para que as famílias erguessem seus mausoléus. E então, a ostentação de poder ficou ainda mais explícita. As famílias mais ricas gastavam enormes quantias de dinheiro para pagar todo requinte empregado na construção de seus jazidos, que deveriam ficar de acordo com o poder e posição social do falecido. Muitas vezes, era encomendada de artistas europeus essa incumbência.
Vale ressaltar que essa estratificação continua presente no cemitério local ainda hoje, mostrando que mesmo após a morte, seu jazido será destacado de acordo com a posição social que representava aqui a terra enquanto vivo. Foi nesse intuito e temática, que tentei contribuir para a realização do 1º Roteiro Cultural guiado que realizei no dia 20 de dezembro de 2009 às 06:30h da manhã no cemitério de Quixeramobim, para os alunos do Ponto de Cultura Patrimônio Vivo, no qual faço parte e convidados.

Postado pelo Artesão Iran do Nascimento- Aluno do Ponto de Cultura Patrimônio Vivo

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