quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cerca de cinco mil pessoas participam da Caminhada da Seca, em Senador Pompeu

Foto: Elistênio Alves
Pela trigésima segunda (32ª) vez, fiéis e peregrinos participaram da já tradicional Caminhada da Seca, realizada sempre no segundo domingo de novembro, no município de Senador Pompeu, no Sertão Central.  A Caminhada que teve seu início no ano de 1982, e visa homenagear os cerca de 2,5 mil retirantes mortos no campo de concentração da Barragem do Açude Patú. As vítimas eram homens e mulheres, crianças, adultos e idosos.

Como todos os anos, um tema é escolhido pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos Antônio Conselheiro (CDDH-AC), que organiza o evento para que os inúmeros fiéis possam refletir. Dada a preocupação com o sistema hídrico da cidade, o tema escolhido em 2014 foi: “Pela Preservação das Águas do Patú, fonte de vida e construção da liberdade – Em defesa da dignidade humana”.

A Caminhada movimenta o município desde o início do final de semana. A cidade vive um ar diferente com a chegada de inúmeros romeiros e visitantes de outros municípios que todos os anos participam da Caminhada que tem início de madrugada. Guiados por cânticos, leituras e rezas, os peregrinos caminham os cerca de seis quilômetros que separam a Igreja de Senador Pompeu do cemitério localizado no terreno da Barragem do açude Patú em pouco mais de duas horas.

Os retirantes levam em sua maioria água e pão, pois segundo a tradição, esses mantimentos devem ser oferecidos às almas, afinal às inúmeras pessoas morreram justamente por falta deles. E é em intenção dessas almas que se celebra uma missa ao final da Caminhada.

Apesar da importância histórica e religiosa do evento, segundo a organização, este ano foram enfrentadas dificuldades para a sua realização, pois importantes pessoas ligadas à comunicação da cidade e até mesmo o governo municipal não teriam empenhado esforços na execução do mesmo.

Para o historiador Neto Camorim, que acompanhou o Sistema Maior e também participou pela primeira vez da Caminhada, é preciso valorizar a história da região: “A Caminhada da Seca em Senador Pompeu é um momento místico, de religiosidade e muita fé em memória as almas daqueles que morreram de fome, sede e cólera no campo de concentração para não fugirem em direção a Fortaleza. Precisamos conhecer e valorizar a história de nossa região do Sertão Central cearense”, disse. Neto faz parte da ONG. Iphanaq, que fez registros em vídeo para a produção de um documentário sobre o evento.

Enviados Especiais Ong. Iphanaq
Elistênio Alves e Neto Camorim










E o Arquivo Público Municipal, cadê?

A Câmara Municipal de Quixeramobim está deixando o prédio que fora utilizado por muitos anos como sede do parlamento municipal, a Casa de Câmara e Cadeia. Esta, que é tombada pelo Iphan como um dos patrimônios arquitetônicos do país, deixará em alguns dias de ser sede do Legislativo definitivamente.

Em 29 de outubro foi assinada a ordem de serviço para a construção da nova sede da Casa Legislativa, na Avenida Dr. Joaquim Fernandes. Inclusive os primeiros tijolos já foram postos na obra, que começou logo após o falatório do parlamento. Um espaço bem mais amplo e confortável, diga-se de passagem. Dada a vacância da agora sede antiga, surge a pressão popular para que o espaço abrigue o Arquivo Público Municipal.

Para que isso pudesse acontecer primeiro teria que, no mínimo, esse Arquivo ser criado (e foi) por Lei. Matéria publicada no Blog Quixeramobim Agora, em 06 de Dezembro de 2012, informava que “A Câmara Municipal de Quixeramobim aprovou na penúltima sessão do ano de 2012, realizada no dia 05 de dezembro, o projeto de Lei que cria o Arquivo Público Municipal de Quixeramobim”. À época o projeto de Lei aprovado pela Câmara seguiu para a sanção do novo prefeito, Cirilo Pimenta, que segundo informações que me foram repassadas, o sancionou.

É hora de ocupar a Casa!
Tendo em vista a retirada por completo da Câmara do prédio, o que ocorrerá nos próximos dias, é momento de ocupar o espaço com aquilo que já foi definido por Lei e que não deve demorar muito para acontecer, pois já vimos exemplos claros de utilização de prédios históricos para outros ‘fins’, o caso mais claro é do Memorial Antonio Conselheiro, hoje abandonado!

Existe outro projeto de Lei que já passou por votação na Câmara e que também já foi aprovado, segundo o vereador e atual secretário de cultura, Everardo Júnior, transformando a Casa de Câmara e Cadeia em Casa da Memória e Museu Jorge Simão, além de abrigar o Arquivo. O contato feito por telefone com o vereador foi no dia 29 de outubro. Ele ficou de retornar a ligação no dia seguinte para passar mais informações, e como se diz no popular: ‘até hoje’.

É proibido cochilar!
Acendeu uma luz amarela, quase vermelha sobre o que se fará naquele espaço. É preciso que nós, sociedade civil, pressionemos o poder público municipal para que não cochile e não desperdice tempo nesse processo de transição. É mais do que importante, é imprescindível utilizar aquele espaço para o Arquivo Público Municipal. Nós estamos de olho!

Por
Elistênio Alves
Graduando em Letras/Espanhol pela Universidade Federal do Ceará

Papo Cultural recebe Getúlio Câmara no Dia do Radialista

Foto: Elistênio Alves
Aconteceu no dia 7 de novembro, no dia do Radialista, a 45ª edição do projeto Papo Cultural. Dessa vez recebemos um dos radialistas mais respeitados do município de Quixeramobim e do sertão central cearense, Getúlio Câmara.

Getúlio, uma pessoa singular, discreto, chega à Casa do Conselheiro pouco tempo antes do horário previsto para o início do Papo. “Nos bastidores” algumas conversas, histórias contadas de uma cidade com personagens espetaculares que estão por aí palavreadas de boca em boca, mas que vêm à tona nas vozes desses guardadores de memórias coletivas de nossa cidade.

Aos poucos chega um, chega outro e o Papo começa. Um pequeno público, para a alegria de nosso ilustre convidado que, fora do estúdio, confessa sua timidez. Mas com maestria nos remete à cidade de Quixeramobim dos anos 50 e 60, da Radiadora Voz de Cristal ao recebimento das mãos de um emissário acompanhados da Polícia Federal a tão sonhada licença para o funcionamento da Rádio difusora Cristal. “Era o dia 5 de fevereiro de 1968, quando a concessão foi assinada pelo Castelo Branco”. Como era em tempos da Ditadura Militar, toda semana tinha fiscalização para evitar que a rádio tocasse as músicas fora da relação deixada pelos militares. Portanto, tinha uma lista das músicas que eram proibidas.

Escolhas - Segundo Getúlio, antes de se tornar uma emissora de rádio, a Voz de Cristal, funcionava em determinados horários com um serviço de alto-falante, com caixas colocadas em locais estratégicos da cidade, sempre de muita utilidade pública. Sobre sua vida toda dedicada ao rádio, lembrou que, na época em que iniciou sua vida radiofônica, tinha passado na primeira fase para cursar medicina, porém, nesse intervalo, veio pra Quixeramobim e iniciou o trabalho na rádio, desistindo do curso que ainda hoje é tão cobiçado pela maioria de nossos jovens.

Getúlio destacou ainda a qualidade do acervo musical da emissora, que não deixa a desejar a nenhuma outra no país, tendo em seu estúdio a primeira música gravada no Brasil, além de ter mais de quatro mil discos de cera, que hoje são uma raridade. Indagado sobre o gosto pela música, lembrou que morava bem ao lado do estúdio da radiadora e assim não teve como não gostar daquele universo musical.

“A Radio Difusora Cristal faz parte da História de Quixeramobim”, comenta Getúlio e relembra ao mesmo tempo a luta de seu pai, Fenelon Câmara, que ao longo da vida fez de tudo para manter a emissora no ar. Getúlio orgulha-se da rádio nunca ter sido punida por irregularidades, seja de caráter político ou não. E afirma ainda: “deixo todo mundo falar na rádio, desde que não fale de ninguém”.

Êxitos - Durante todo o tempo foram momentos de idas e vindas à história da emissora, e em alguns momentos de muita emoção, como se vê quando Getúlio relembra fatos importantes, em alguns momentos pitorescos que arrancavam boas gargalhadas nos presentes. Público que, ao mesmo tempo, interpelava o convidado praticamente durante todo o Papo. E, é claro, houve várias inserções dos presentes sobre os dois principais programas em que Getúlio comanda e comandou: Agenda Policial e Discoteca da Amizade. Para Getúlio, o sucesso do programa, em sua modéstia, está muito mais ligado à assiduidade do que propriamente ao apresentador. Quanto à Discoteca da Amizade, pensa em voltar a transmitir, num formato diferente, já que os tempos são outros.

Durante o debate, quando perguntado se seu nome era em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, ele confirmou a homenagem, e disse que tem uma carta que foi respondida por Darcy Vargas confirmando o apadrinhamento. Ainda durante o debate, Getúlio falou um pouco de sua carreira política e dos percalços que enfrentou quando foi presidente da Câmara Municipal de Quixeramobim.

Ao encerrar, Getúlio recebeu uma menção honrosa pela sua presença ao evento, agradecendo por ela e pelo convite, dizendo estar “muito satisfeito em poder participar do Papo Cultural”, colocando-se à disposição para outros momentos.

Ailton Brasil- Historiador e Presidente da ONG Iphanaq






quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Romaria canudense: solidariedade e forças para o futuro

Ruínas da Igreja na Velha Canudos. Foto: Elistênio Alves (2013)
Em 1988 alguns homens e mulheres, agricultores, organizados em sociedade, juntos com “protestantes”(crentes) e católicos das paróquias da região de Canudos, e das Dioceses de Paulo Afonso, Juazeiro, Senhor do Bonfim e Rui Barbosa, deram inicio à 1ª. Romaria de Canudos. Este ano o evento completou 27 romarias consecutivas trazendo o tema: “Canudos, Liberdade e Dignidade para o Sertão”, tendo suas atividades iniciadas na noite de 17 de outubro no Memorial Antônio Conselheiro. O Momento contou com a palestra Canudos Sempre, ministrada pelo professor Edivaldo Boaventura, primeiro reitor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Este é o terceiro ano consecutivo que a Universidade participa de forma direta, como uma das principais organizadoras.

No segundo dia, na parte da manhã (18/10) a programação deixava a critério de cada caravana a visitação aos principais pontos turísticos de Canudos. Ao final da matéria, confira os pontos visitados.

Afinal o que é romaria?
O Aurélio nos diz que é uma peregrinação a algum local religioso. Diz ainda tratar-se de uma aglomeração de pessoas. É neste sentido que os “conselheristas” peregrinam, animados, entusiasmados, refletindo sobre os ideais de Conselheiro na contemporaneidade, vivos, como observamos nas palestras, mesas redondas e celebrações ecumênicas.

A parte da tarde foi reservada para o tradicional desfile organizado pelo  Colégio Municipal Antônio Ferreira (COMAF), com diversos temas: Carnaval, A terra, Paz - o maior pelotão regido sobre música e “A Paz” de Roupa Nova. “É preciso pensar um pouco nas pessoas que ainda vêm / Nas crianças /A gente tem que arrumar um jeito / De achar pra eles um lugar melhor. / Para os nossos filhos / E para os filhos de nossos filhos / Pense bem!...”, mas certamente o tema que arrepiou foi sobre a Ditadura Militar no Brasil, que, segundo os historiadores, iniciou-se em 31 de março de 1964 e finalizou-se em 15 de janeiro de 1985. Os estudantes da referida escola mostraram cenicamente o uso de métodos violentos, que incluíam torturas com choques, afogamento, entre outras tantas técnicas militares da época contra os opositores ao regime.

À noite aconteceu a celebração ecumênica, ao ar livre, em frente ao IPMC. Logo após, mesa redonda intercalada por questões da plateia, público este que se emocionou com o espetáculo “Melelego”, da Cia Teatral de Canudos, que iniciou a noite cultural. Em seguida, show em voz e violão com o excelente artista Isael de Paulo Afonso e o tão esperado momento do lançamento do cd de Bião de Canudos.

No ultimo dia da Romaria de Canudos (19/10), a população foi acordada por fogos e um trio elétrico de onde os animadores convidavam os romeiros para a celebração final e a caminhada, saindo do IPMC até à serra do Mirante, com a benção e despedida."Levantei cedo, eu também peguei a estrada, hoje eu não perco por nada a Romaria de Canudos." Desta forma centenas de romeiros iam cantando, se despedindo, refletindo o tema: Canudos, liberdade e dignidade para o Sertão, que foi discutido, encenado, cantado e retratado. Esperamos que pelo lema desta 27ª Romaria de Canudos: Libertar a Terra, a Água, as Mãos e o Coração, possamos colocar em nossa vivência cotidiana os aprendizados que durante estes três dias muito nos enriqueceram. E pela benção do Antônio Conselheiro e a luta diária de manter vivo entre nós os seus ideias, esperamos nos reencontramos novamente no ano que vem na 28ª Romaria de Canudos.

Confira os pontos de Canudos visitados pelas caravanas participantes da 27ª Romaria, incluindo a de Quixeramobim, formada por integrantes da ONG Iphanaq:
Mirante- local de onde se tem uma vista panorâmica da cidade, e do Açude do Cocorobó. Há ainda neste monte uma capela e uma grande estátua de Antônio Conselheiro; Parque Estadual de Canudos - onde estão o Vale da Morte, o Vale da Degola (onde chefes expedicionários mandavam cortar pescoços de jagunços) e o Alto do Maio (ou do Maia, ou do Mário), onde morreu o coronel Antônio Moreira César (1850-1897), comandante da terceira expedição; Memorial Antônio Conselheiro - existem ali, cuidadosamente catalogados, fragmentos de granadas, garrafas, frascos, botões, numeração indicativa de batalhão, fivelas, estojos e projéteis de fuzis, além de outras relíquias da guerra de Canudos. Há também uma biblioteca com um vasto material sobre o tema e assuntos diversos, um belíssimo jardim com as plantas típicas da caatinga e uma sala de teatro; IPMC- Instituto Popular Memorial de Canudos - há neste local uma capela com uma a cruz original da época de Conselheiro e a madeira comprada pelo mesmo, que não foi entregue, servindo como uma das “causas” para o início do massacre.

Existe uma exposição de fotos, obras de arte, recortes de jornais, e também alguns livros para venda; Em Jorrinho, ao lado da barragem do Rio Vaza Barris, é uma área de lazer frequentada por banhistas, dentre outros. São muitos locais de encontro, movimentando as casas comerciais e institucionais com encontros de amigos, parentes e celebrações com romeiros advindos de: Quixeramobim-CE, terra natal do Conselheiro, Ribeira do Pombal, Uauá,  Quijingue, Paulo Afonso, Juazeiro-BA, Santo Sé, Monte Santo, Euclides da Cunha, Salvador e outras tantas que marcam anualmente presença na Romaria.

Postado por: Por Carlos Carneiro, Euclides da Cunha - BA