quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Romaria canudense: solidariedade e forças para o futuro

Ruínas da Igreja na Velha Canudos. Foto: Elistênio Alves (2013)
Em 1988 alguns homens e mulheres, agricultores, organizados em sociedade, juntos com “protestantes”(crentes) e católicos das paróquias da região de Canudos, e das Dioceses de Paulo Afonso, Juazeiro, Senhor do Bonfim e Rui Barbosa, deram inicio à 1ª. Romaria de Canudos. Este ano o evento completou 27 romarias consecutivas trazendo o tema: “Canudos, Liberdade e Dignidade para o Sertão”, tendo suas atividades iniciadas na noite de 17 de outubro no Memorial Antônio Conselheiro. O Momento contou com a palestra Canudos Sempre, ministrada pelo professor Edivaldo Boaventura, primeiro reitor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Este é o terceiro ano consecutivo que a Universidade participa de forma direta, como uma das principais organizadoras.

No segundo dia, na parte da manhã (18/10) a programação deixava a critério de cada caravana a visitação aos principais pontos turísticos de Canudos. Ao final da matéria, confira os pontos visitados.

Afinal o que é romaria?
O Aurélio nos diz que é uma peregrinação a algum local religioso. Diz ainda tratar-se de uma aglomeração de pessoas. É neste sentido que os “conselheristas” peregrinam, animados, entusiasmados, refletindo sobre os ideais de Conselheiro na contemporaneidade, vivos, como observamos nas palestras, mesas redondas e celebrações ecumênicas.

A parte da tarde foi reservada para o tradicional desfile organizado pelo  Colégio Municipal Antônio Ferreira (COMAF), com diversos temas: Carnaval, A terra, Paz - o maior pelotão regido sobre música e “A Paz” de Roupa Nova. “É preciso pensar um pouco nas pessoas que ainda vêm / Nas crianças /A gente tem que arrumar um jeito / De achar pra eles um lugar melhor. / Para os nossos filhos / E para os filhos de nossos filhos / Pense bem!...”, mas certamente o tema que arrepiou foi sobre a Ditadura Militar no Brasil, que, segundo os historiadores, iniciou-se em 31 de março de 1964 e finalizou-se em 15 de janeiro de 1985. Os estudantes da referida escola mostraram cenicamente o uso de métodos violentos, que incluíam torturas com choques, afogamento, entre outras tantas técnicas militares da época contra os opositores ao regime.

À noite aconteceu a celebração ecumênica, ao ar livre, em frente ao IPMC. Logo após, mesa redonda intercalada por questões da plateia, público este que se emocionou com o espetáculo “Melelego”, da Cia Teatral de Canudos, que iniciou a noite cultural. Em seguida, show em voz e violão com o excelente artista Isael de Paulo Afonso e o tão esperado momento do lançamento do cd de Bião de Canudos.

No ultimo dia da Romaria de Canudos (19/10), a população foi acordada por fogos e um trio elétrico de onde os animadores convidavam os romeiros para a celebração final e a caminhada, saindo do IPMC até à serra do Mirante, com a benção e despedida."Levantei cedo, eu também peguei a estrada, hoje eu não perco por nada a Romaria de Canudos." Desta forma centenas de romeiros iam cantando, se despedindo, refletindo o tema: Canudos, liberdade e dignidade para o Sertão, que foi discutido, encenado, cantado e retratado. Esperamos que pelo lema desta 27ª Romaria de Canudos: Libertar a Terra, a Água, as Mãos e o Coração, possamos colocar em nossa vivência cotidiana os aprendizados que durante estes três dias muito nos enriqueceram. E pela benção do Antônio Conselheiro e a luta diária de manter vivo entre nós os seus ideias, esperamos nos reencontramos novamente no ano que vem na 28ª Romaria de Canudos.

Confira os pontos de Canudos visitados pelas caravanas participantes da 27ª Romaria, incluindo a de Quixeramobim, formada por integrantes da ONG Iphanaq:
Mirante- local de onde se tem uma vista panorâmica da cidade, e do Açude do Cocorobó. Há ainda neste monte uma capela e uma grande estátua de Antônio Conselheiro; Parque Estadual de Canudos - onde estão o Vale da Morte, o Vale da Degola (onde chefes expedicionários mandavam cortar pescoços de jagunços) e o Alto do Maio (ou do Maia, ou do Mário), onde morreu o coronel Antônio Moreira César (1850-1897), comandante da terceira expedição; Memorial Antônio Conselheiro - existem ali, cuidadosamente catalogados, fragmentos de granadas, garrafas, frascos, botões, numeração indicativa de batalhão, fivelas, estojos e projéteis de fuzis, além de outras relíquias da guerra de Canudos. Há também uma biblioteca com um vasto material sobre o tema e assuntos diversos, um belíssimo jardim com as plantas típicas da caatinga e uma sala de teatro; IPMC- Instituto Popular Memorial de Canudos - há neste local uma capela com uma a cruz original da época de Conselheiro e a madeira comprada pelo mesmo, que não foi entregue, servindo como uma das “causas” para o início do massacre.

Existe uma exposição de fotos, obras de arte, recortes de jornais, e também alguns livros para venda; Em Jorrinho, ao lado da barragem do Rio Vaza Barris, é uma área de lazer frequentada por banhistas, dentre outros. São muitos locais de encontro, movimentando as casas comerciais e institucionais com encontros de amigos, parentes e celebrações com romeiros advindos de: Quixeramobim-CE, terra natal do Conselheiro, Ribeira do Pombal, Uauá,  Quijingue, Paulo Afonso, Juazeiro-BA, Santo Sé, Monte Santo, Euclides da Cunha, Salvador e outras tantas que marcam anualmente presença na Romaria.

Postado por: Por Carlos Carneiro, Euclides da Cunha - BA

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