sábado, 5 de dezembro de 2009

Palhaço mais velho em atividade no Ceará


O mais antigo palhaço em atividade no Ceará tem 81 anos. José Gomes de Souza, o Trepinha, trabalha no Theatro José de Alencar – TJA desde o começo dos anos 70, oficialmente contratado pela Secretaria da Cultura do Estado.

Depois de viajar pelos brasis em circos como o Nerino (leia sobre Trepinha no livro "Circo Nerino", de Roger Avanzi e de Verônica Tamaoki) e Garcia, de ter sua própria lona, ele chegou a Fortaleza a tempo de viver os mundos dos circos que ainda armavam lona no Mucuripe, então bairro de pescadores, e no Centro, o coração da cidade.

Sua iniciação no TJA nos remete à sua iniciação ao circo que, por sua vez, lembra as legiões de artistas célebres e anônimos que chegaram à lona por acaso e ali inventaram uma vida para si.

Trepinha conta que conheceu o alfaiate Clóvis Matias nas festas e brincadeiras de rua: “Seu Clóvis me levou para o Theatro José de Alencar, onde era porteiro, trabalhava n’O Mártir do Gólgota”. Na história do TJA, as temporadas d’A paixão de Cristo embaravalhavam os códigos estabelecidos, interferiam nas apartações entre o mundo da rua e o mundo do teatrão edificado. Multidões enchiam o teatro durante semanas. E traziam a vibração da rua, das rodas de artistas em praças, pátios de igreja, terreiros a céu aberto. Trepinha estava lá: no meio, no espaço entre um e outro. É uma espécie de zona de transição, de corredor de passagem, um dos lugares que Trepinha cultivou no Theatro José de Alencar.

Até hoje, ele fica à entrada do Theatro José de Alencar para convocar o público da rua a entrar no teatro. Um misto de mestre de cerimônia e articulador de público, um palhaço-rito de passagem: muitos dos que entram no teatro pela primeira vez, fazem a travessia a convite do mestre. Sob o sol, protegendo-se em dias de chuva, Trepinha deixa o presente mais denso ao atualizar no TJA uma experiência larga de tempo do encontro do artista com o público. Melhor: da passagem de transeunte, indivíduo, moradora, um dado da população, para o lugar de platéia. A passagem para uma experiência de coletivo, como são as experiências de platéia, de ser público.

Megafone na mão, ele inventa textos. Conhece o dia-a-dia do teatro e da rua, experimenta na pele as diferenças entre um e outro e trabalha com elas como possibilidade de encontro, de ligação. Sabe que um não existe sem o outro. Em um final de tarde de 2008, estava ele no saguão, com um olho na rua e outro no teatro, chamando os passantes para ver Flor de Obsessão, espetáculo-solo do ator e dramaturgo Ricardo Guilherme, a partir do universo de Nelson Rodrigues. Antes, programação oficial na mão, como sempre faz, Trepinha havia ido ao camarim para saber mais sobre o espetáculo. Conversou com o ator, dois mestres partilhando no dizer e no ouvir o universo amoroso-obsessivo do dramaturgo pernambucano. Ricardo Guilherme falou do solo e, sobretudo, de como Nelson Rodrigues escrevia sobre as paixões, sobre a experiência amorosa. Já na calçada do teatro, dizia Trepinha: “Entrem, entrem! Hoje, grande espetáculo do grande ator Ricardo Guilherme. Hoje, Flor de Obsessão, uma história de amor, carinho e chifre. Você não pode perder”.

Matéria- TJA

Postagem- Elistênio Alves

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