sábado, 1 de junho de 2013

Da seca d’O Quinze para o verde da Oiticica do Poço Grande

         
            Depois de três encontros do grupo de leitura “Sertões e Memórias”, na casa de Conselheiro, nos dias 13, 27 de abril e 11 de maio, o quarto encontro aconteceu no dia 25 de maio as margens do rio Quixeramobim, no Poço Grande. Acompanhe a seguir texto produzido pelo coordenador do grupo de leitura, João Paulo Barbosa.
Arrumamos nossas cargas e arribamos sábado á tarde rumo ao Poço Grande, raízes do Brasil. Motivo? Era a seca d’O Quinze da Rachel de Queiroz que nos esperava para mais um deleite de leitura à sombra da oiticica nas margens do Poço Grande, reduto de pescadores e admiradores da natureza. Mas, ao andar pela estrada percebemos que tá tudo verdinho em flor, tudo fresco: os pés de canapum, marmeleiro, malva, velame, os “passarin” cantando mais alegremente, as águas de maio correndo nas grotas nas beiras da estrada, as vacas mais gordas e felizes, enfim...
E lá sentamos, depois de molharmos os pés nas águas do riacho escorregando nas pedras em lodo, com O Quinze debaixo do braço e as Vozes da Seca, do velho Lula, na caixinha de som pra dar um tom de poeticidade à prosa da Rachel no início das falas. Então, começamos. Apesar de todo aquele frescor trazido pelas chuvas citado acima, a tristeza da parte mais trágica do romance nos comove e nos faz lembrar sertões adentro e a fora daqui mesmo do nosso Quixeramobim.
Rachel é muito profunda. Faz o leitor mergulhar de cabeça, alma e coração nas profundezas da alma sertaneja, sofredora, que sai do seu torrão buscando a sobrevivência. É a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus cinco filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:  "Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra da mesma cruz." 
Tudo isso nos remeteu aos sertões mais longínquos e, ao mesmo tempo, perto de alguns de nós que ainda vivemos um pedaço deles. Nada ali naqueles tempos não tão remotos interessava nada tinha mais importância do que a comida e a água para a sobrevivência. Veio o ser-tão de dentro para fora de nós para explicarmos àquela galera mais jovem presente no encontro como foi que o sertão se transformou no que é hoje.
Assim, demarcamos do capítulo 15 (parece que tudo gira em torno deste número) até o final do livro, para o dia 15 (num tou dizendo?!) de Junho, após os festejos do Santo Casamenteiro de Portugal pros sertões de Quixeramobim. E depois, “Não me deixes” não nos deixará esperando por muito tempo: tomaremos um café na varanda com a Rachel de Queiroz nos sertões do Quixadá, (com licença histórico-poética) distrito aqui de Quixeramobim.

João Paulo Barbosa - coordenador do grupo de leitura “Sertões e Memórias”.











Texto: João Paulo Barbosa
Fotos: Ailton Brasil e Elistênio Alves

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