quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cultura, Câmara e Executivo na hora da Homenagem Prática

Danilo Patrício
Doutorando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
 
A simples cogitação para funcionamento da Câmara Municipal no Memorial Antônio Conselheiro é a mostra direta do que a institucionalidade, ao longo dos anos, fez com um grande projeto potente para a cidade. Ou deixou de fazer. Os mais novos podem não saber, mas o “espaço” foi inaugurado em 1997, sem cumprir as falas dos que lá estavam, saudando e evocando um filho ilustre, Conselheiro, que de novo o rejeitariam ao deixar a sede com o nome de Antônio Maciel abandonada.

Os 16 anos de omissão da classe política para com a edificação inacabada que inauguraram, em 97, fazem da maioria destes – vereadores e dirigentes presentes puxadores do aplauso vazio – os coautores de um “Memorial sem Memória”, que, para não espezinhar mais ainda a Memória dos dignos brasileiros comandados por nosso Antônio, deviam pelo menos não mais referirem-se ao local como Memorial Antônio Conselheiro, caso continuem a cogitá-lo como sede do Parlamento Municipal ou qualquer outra ideia descabida que desconsidere esse universo memorável. Tal cogitação consiste em ver como natural uma ideia do Memorial como fracasso, concebendo a Cultura desconectada da experiência social da vida, ou atribuindo o suposto fracasso para Memorial ao fato da cidade não querê-lo, o que não procede.

A cidade o quer sim, mas não dessa forma, para onde o empurraram. Os quixeramobinenses e os visitantes, brasileiros, o querem vivo, sem lixo, sem motos estacionadas nas calçadas tomadas, sem outros projetos o remendando. Querem um Memorial com a conclusão da quadra, do projeto paisagístico com jardins, com um auditório concluído para ser utilizado, com a rampa de homenagens em placas, limpa, bela, com uma programação ativa, debatida com agentes da cultura do município e população em geral. Em vez de pensar em funcionar lá, falta fazer o caminho, perdido em percurso, de puxar articulação política para acabar com a imagem de um cartão postal aniquilado, que depõe contra a imagem do próprio lugar, ridicularizado no Centro da cidade, no meio do Ceará, com os vereadores e a classe política – que tem a articulação como razão de ser, ou teriam  – contribuindo diretamente para continuar o processo de rejeição de Conselheiro, e, pior, pelo caminho das memórias projetadas ao futuro de realização, um dos maiores potenciais de Quixeramobim.

Sem espera - Com os últimos acontecimentos políticos ocorridos, difundiu-se inexplicavelmente, no seio da política oficial do município, a ideia de que é preciso esperar definições para se tomar decisões. Ora, sem entrar em outras esferas, isso não procede para o caso do Memorial e da Cultura como Gestão, que teve o período anterior aos assim ditos “provisórios” marcas da ausência de ações, com gravidade agora explicitada no vazio de espaços culturais como o Memorial e outras edificações portadoras de movimento histórico na cidade, que seriam, e devem ser, presentes na Cultura e no Turismo. O exercício de cargos só se justifica para se por em prática o que se pensa.
 
O atual prefeito foi secretário de cultura de gestão anterior. Embora questionado nas ações, ou pela falta delas, ligou-se a pessoas ditas da área, e pode bem assessorar-se, na incapacidade de se saber ou de se gostar de tudo, para a boa saúde da gestão. O presidente da Câmara, Everardo Júnior, tem na trajetória ligações com a memória de Antônio. Integrou na década de 1990 o então Movimento Antônio Conselheiro, visitou Canudos e sempre se associou de alguma maneira ao imaginário do Belo Monte, como nos casos da criação e entregas da Comenda Antônio Conselheiro e da instituição do 13 de março como feriado municipal, em homenagem alusiva ao nascimento de Antônio Conselheiro.

Não cabe agora, para esse Lugar na Cultura, a condição “provisória”. No contexto de justas homenagens que a Câmara vem prestando, chegou a hora da “Homenagem Prática”, a ser feita à Memória de Conselheiro, dos Canudenses e por extensão aos muitos brasileiros que se sentem dignos pelos feitos na Bahia comandados por um conterrâneo nosso, nascido em Quixeramobim. Em vez de pensar em fazer reuniões no inacabado Memorial, um dia discurso ao vento, Evereador Júnior, intitulando-se Conselheirista, tem a grande oportunidade de, da classe política oficial, em articulação com agentes da cultura e sociedade organizada, puxar e liderar o processo para conclusão do Memorial e funcionamento para transformação do mesmo em espaço vivo.

Fazer político - Os canais estão abertos e as propostas já existem. Universidades, BNB Cultural, Sec Ler, Fundação Canudos, Iphanaq, Secult Estadual, Iphan Ceará, MST, Teatro José de Alencar... São alguns dos Lugares que já pensaram associativamente ações para o Memorial, esperando – até quando!? – a sinalização oficial da institucionalidade para a definição de ações práticas duradouras que se consolidem. Além da conclusão física da obra, há propostas para Programação, Funcionamento de acervos e inclusão do prédio em Circuitos de oficinas, Cursos de formação, Festivais e Programações artísticas. Parte do muito que pode coexistir com imagem cuidadosa e atrativa do Memorial ligada ao universo Antônio Conselheiro e Canudos. Esperamos que uma trôpega ideia, cogitada, de levar um parlamento para um potencial lugar vivo de Cultura se transforme em uma grande articulação, com cronograma de ações e plano de metas com prazo para uma concretização virtuosa. 

Esperamos, e que o presidente da Câmara, Poder permanente, aproveite a oportunidade para fazer história, elevando a dele e contribuindo para edificar a de uma boa parte que tem essa expectativa há muito, sem falar nos visitantes, para qual a Obra conselheirista sempre sem abre. Afinal, mobilização da Câmara para Projeto Memorial em amplitude, com o Executivo, até onde se sabe não incomoda interesses divergentes na cidade. Pelo contrário. O que se sabe é que a missão dá trabalho sim, e é isso que as entidades citadas, já cientes disso e não se esquivando dessa labuta, esperam dos dois poderes, assim como a maioria da população.

Arquivo Vivo - Além de desencadear esse processo, a Câmara Municipal, com a liderança de seu presidente, que também por muitas vezes fora líder do Executivo, pode também dar grande contribuição deixando de vez, e integralmente, o prédio da Casa de Câmara e Cadeia, nos dois andares, para funcionamento do Arquivo Público Municipal. Nobre medida faz com que ao mesmo tempo a edificação seja um lugar de pesquisa e, modernamente, de movimentação com programação cultural e visitas turísticas, como se notabilizam os bons arquivos hoje. Realizando reuniões provisórias no Paroquial ou em outros lugares, enquanto aguarda nova sede, a Câmara não perde em nada levando sua papelada e escriturário para outro espaço, que pode ser buscado na própria sede do Executivo, provisoriamente que seja, ou em espaço fácil de ser encontrado entre as opções em diálogo fácil com a municipalidade.

Em nada perderá a Câmara e em muito fará ganhar o município, abrindo espaço para lugar ideal para um Arquivo, incluindo a simbologia de nosso único prédio nacionalmente tomado. Além do apoio do Iphan, autor do tombamento, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult) já incluiu Quixeramobim entre os 10 municípios que podem receber recursos de Projeto para Arquivo, com a condição de possuir sede própria. A própria Câmara já criou o Arquivo, de direito, quando o aprovou em Projeto de Lei, que aguarda regulamentação, a ser sancionado pelo prefeito, que, provisório ou não, mas no cargo, poderá se intitular autor de uma grande medida para colocar entre as realizações difundindo aos eleitores futuros. Aprovado na Gestão passada da Câmara, deve-se reconhecer que o Projeto que criou o Arquivo, apresentado por uma entidade não governamental, teve boa acolhida do vereador hoje presidente do parlamento. O presidente tem agora a valiosa oportunidade de fazer funcionar o Arquivo Público, que seria o 3º espaço municipal do tipo entre os municípios cearenses.

Pode ele, presidente, sem muito esforço, sensibilizar-se para a por a ideia em prática em pouco tempo, viabilizando o local, e trabalhando na articulação para regulamentar o Arquivo, com uma estrutura logística mínima inicial de material e a destinação de profissionais para o local, realocando profissionais, como historiadores, que o município já possui, sem falar dos que já receberam formação em oficinas ofertadas via Ponto de Cultura na cidade, ministradas por profissionais de experiência reconhecida nacionalmente. 

Temos um contexto favorável, independente de disputas eleitorais, que são reais, mas não devem justificar mais espera. A boa espera, no curto caminho da realização diante da movimentação na sociedade, é de que os agentes políticos de agora não se façam passageiros na condição provisória que dizem exercer. Na Cultura, que há muito em Quixeramobim aguarda a condição de Gestão, esperamos que se apresentem e ocupem o lugar de ação para o qual existem, servindo publicamente, agindo. Quero com muitos acreditar, na prática, que temos governando o parlamento um Conselheirista, assim dito, a agir de modo antenado com a coletividade, deixando legados institucionais para a Cultura, em forma de “Homenagem Prática”. 

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