quinta-feira, 18 de junho de 2015

CINECLUBE IPHANAQ REALIZA EXIBIÇÃO NO ASSENTAMENTO PITOMBEIRA

O Cineclube Iphanaq esteve com Aílton Brasil, Edmilson Nascimento e Neto Camorim, coordenador do cineclube, no Assentamento Pitombeira, 10 km de Quixeramobim, realizando pela primeira vez exibição de cinema naquela comunidade. Na ocasião foi exibido o documentário “Migrantes”.

Produzido em 2007, fruto de parceria entre a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o documentário mostra a hipocrisia do discurso da “modernidade” autoritária na zona rural do Brasil, expondo realidades dos migrantes nordestinos e as condições trabalhistas desumanas de cortadores de cana, que saem do Piauí, Maranhão e de outros Estados. São migrantes brasileiros que deixam suas famílias e desabam pra São Paulo. Vai todo mundo “pro corte de cana”. Seu Luiz, do município de Codó, no Maranhão, é um deles. “Não sei se eu vou, não sei se eu não vou, meu Deus. Aí fica naquela, sabe? Mas que vai resolvendo eu ir”, conta em seu depoimento no filme.

Separações
- “Por mim ele não ia não”, conta a bem-humorada sogra de Luiz, Tereza. “Eu acho dificultoso ele pra lá e nós pra cá. A mulher dele fica aí sofrendo”. Quando foi pela primeira vez, ela completa, chegou “magrinho, magro demais”. Luiz argumenta: “Na idade que eu tô, pra ir não é porque eu queira. É por necessidade. Porque se eu não ir, aqui não tem como me ajudar meus filhos. De maneira alguma”. Essa é dura realidade de Luiz e de outros milhares de cortadores de cana-de-açúcar é tema deste filme que mostra uma realidade pouco conhecida. Os jornais, TVs e revistas costumam destacar a “modernidade do campo” e o desenvolvimento agrário brasileiro – automatizado, justo e sem grandes problemas, cuja principal ameaça seria os grupos de trabalhadores politicamente organizados.

Outra realidade destacada no documentário são as famílias despedaçadas. A busca pela sobrevivência dá lugar, nas cidades de origem, à saudade e à tristeza de viver em uma família sem pais ou irmãos. Ficam apenas as mulheres, crianças e aposentados. São filhas, mães, esposas, cada qual sofrendo à sua maneira. Essa situação é muito triste, mas infelizmente ainda acontece, inclusive aqui em nossa região, onde muitos jovens ainda vão todo ano pro corte de cana em busca da sobrevivência. Assim comentou Ruth dos Santos, estudante, moradora da comunidade, durante o debate após o filme.

Espaço de lazer e debate – Na ocasião, ela também agradeceu a presença do cineclube na comunidade e disse que está sempre à disposição para outras exibições em outras oportunidades. As pessoas hoje, sejam elas da cidade ou do campo, quase não têm opção cultural. E um cinema que proporciona debate sobre a realidade e outros contextos é muito importante”, frisou a jovem Ruth.

O projeto Cineclube é uma ação da ONG Iphanaq, que a cada mês realiza exibição de cinema nacional nas comunidades de Quixeramobim. Tem o apoio cultural do SESC-Ler e do Sistema Maior de Comunicação.

Neto Camorim – Historiador e Coordenador do Cineclube e Integrante da ONG Iphanaq.

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