sexta-feira, 5 de junho de 2015

Papo Cultura de maio recebe Marcelo Matos, Coordenador do MST

O 51º Papo Cultural recebeu na última sexta de maio, dia 29, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marcelo Matos. Atualmente Marcelo é um dos coordenadores da “Brigada Antônio Conselheiro”, região política do MST, sediada em Quixeramobim.

Natural de Quixadá, mas hoje com título de cidadão quixeramobinense, Marcelo morou na Fazenda Triunfo, em Quixadá, e esteve um período com sua família em São Paulo, Ibaretama, mas retornou a morar em Quixadá. Aos 11 anos de idade, o ativista participou da primeira ocupação de terra de sua vida, que se deu entre os municípios de Aracoiaba e Ocara. Com o passar do tempo, ele participou do setor de juventude do MST e, posteriormente, do setor de comunicação. Mais tarde, cursou Comunicação Social, fazendo parte da primeira turma de Jornalismo da Terra na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Falando da trajetória do MST, Marcelo fez um relato histórico dos movimentos populares no Brasil ligados à terra, destacando Canudos, Contestado, Caldeirão e as Ligas Camponesas. Movimentos percussores da luta pela terra, mas que foram isolados ao longo de suas lutas.
O dirigente falou um pouco dos líderes, destacando principalmente Antônio Conselheiro e o Beato Zé Lourenço, lembrando que a Igreja Católica, através da Pastoral da Terra, foi uma instituição que a princípio apoiou o surgimento do MST, no Rio Grande do Sul.

Ocupação x Invasão – Noutro momento do Papo, Marcelo destacou que o processo de luta pela terra se inicia com a ocupação de um latifúndio. Ele explicou a diferença entre ocupação e invasão, como é nomeado pela maior parte da mídia brasileira. “Lembro que, segundo a nossa Constituição, a terra tem que cumprir sua função social e, caso isso não ocorra, deve ser destinada para fins de reforma agrária. Como não há boa vontade dos governos, os trabalhadores ocupam a terra para forçar a desapropriação do latifúndio”, destacou.

Assim surgiu o MST em 1985, tendo como primeiro lema “terra não se compra, se conquista”. Ao longo desses 30 anos de existência, o Movimento tem sofrido diversos ataques da grande mídia, do empresariado e principalmente por parte dos agentes do Agronegócio, concentrando muita terra e assentos no Congresso Nacional, tentando barrar o processo da reforma agrária no Brasil.

Marcelo destacou também outros fatores importantes para que o MST tenha conquistado tanto espaço. Entre eles está o não isolamento, articulando-se com outros movimentos sociais brasileiros e internacionais, formando a Via Campesina. Segundo Marcelo, além da conquista da terra, a luta pela educação tem dado ao MST uma base sólida ao Movimento, conquistando vários cursos para o processo de formação dos agricultores e dos militantes. Os cursos vão das séries iniciais até à universidade.

Solidariedade – Outra característica do Movimento é a solidariedade. O MST tem contribuído na luta de vários povos do mundo, manifestando-se contra o processo de destruição dos mesmos, como no caso dos palestinos, e na luta pela reconstrução do Haiti.

Marcelo chamou a atenção para outro dado importante: cerca de 70% da comida que chega à mesa do povo brasileiro vem das áreas de reforma agrária, enquanto que a maior parte do que o agronegócio produz é exportado.
Durante o papo, Marcelo fez várias críticas ao governo federal, destacando que o papel de reivindicação e mobilização tem se dado no processo de luta e, conforme ressalta, as conquistas do movimento vão para além das classes camponesas.

Ao encerrar o Papo, Marcelo lembrou que a luta pela terra é marcada pela solidariedade e, em seguida, recitou um poema de Bertold Brech, para encerrar sua fala.

Texto – Ailton Brasil, Presidente da ONG Iphanaq
Fotos:  Edmílson Nascimento
Direção: ONG Iphanaq

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