sexta-feira, 6 de março de 2015

48º Papo Cultural: Historiadora Eudésia Nobre apresenta pesquisa de Mestrado sobre imaginários da morte no Sertão Central


No último dia 27 de fevereiro, na casa de Antônio Conselheiro, dando início às atividades do Papo Cultural em 2015, o Projeto recebeu a historiadora Eudésia Nobre. A pesquisadora nasceu em Quixeramobim e reside em Quixadá desde à infância, onde realizou seus estudos, inclusive a graduação em história na Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc/Uece). Atualmente em fase de conclusão do mestrado na Universidade do Estado do Ceará (Uece), Eudésia veio apresentar a sua dissertação, que tem como título “As Vozes da Maldizença”- Imaginário sobre a morte e o morrer no sertão central do Ceará.

Segundo Eudésia Nobre, a presença dos mortos reivindicando orações e pagamento de promessas é algo que permeia a tradição nordestina, assim como existem indícios em outras épocas e sociedades da ação dos mortos diante dos vivos, pelos mais variados motivos. Com a criação do purgatório, a Igreja Católica criou um terceiro local para as almas pecadoras, com a finalidade de que pudessem ter a chance de regeneração e buscar o reino do céu. Portanto, as almas poderiam se regenerar e receber as bênçãos do paraíso. As que não tivessem perdão penariam eternamente no fogo do inferno, suportando suas terríveis penas. De acordo com o imaginário cristão, atender aos pedidos dessas almas é ajudá-las na caminhada pela expiação dos pecados e, ao mesmo tempo, ficar de bem com aquele espírito que continua preso ao mundo dos vivos, na busca do seu caminho.
“Maldizença” – Em Oiticica, distrito do Município de Ibaretama, no Sertão Central cearense, essas almas se manifestavam, através da “Maldizença”, uma crença que consistia em vozes, choros e lamentos das almas que permanecem entre os vivos para fazer suas reivindicações.

Para a pesquisadora, o presente trabalho tem por objetivo refletir sobre a experiência dessa comunidade com as questões relacionadas ao imaginário acerca da morte e das almas que permanecem entre os vivos, no período que compreende a segunda metade do século XX. “Consideramos que a percepção do mundo está intimamente ligada à forma como apreendemos a realidade, e essa apreensão leva as marcas das relações estabelecidas socialmente, portanto o passado é composto por essa rede de significados atribuídos a ele. Nesse sentido é que utilizei a metodologia da História Oral para, através da memória, perceber na subjetividade de cada sujeito esses indícios do pensamento ocidental cristão em torno das questões acima citadas. No decorrer da pesquisa percebemos que essa manifestação despertava temor na localidade, e esse temor estava intimamente relacionado aos crimes de mortes ocorridos no referido lugar, portanto a “Maldizença” seria a precursora de um momento de tensão social em que o desfecho seria a presença da morte”, abordou Eudésia Nobre, em parte de sua apresentação.

Para um público de professores e estudantes, que fez intervenções durante o debate, o trabalho da pesquisadora se constitui algo inédito aqui em nossa região, conforme destacado entre os presentes. “Nunca tivemos conhecimento de algum trabalho acadêmico que tenha pesquisado o tema “maldizença” e sua relação com a morte aqui no sertão central”, ressaltou a psicóloga Nayara Ribeiro.

O projeto Papo Cultural é uma conversa com personalidades que contribuem com seu trabalho, seus conhecimentos e seus saberes diversos, para a difusão do patrimônio histórico e desenvolvimento cultural e educacional de Quixeramobim e região.

Texto: Neto Camorim- Coordenador do Papo Cultural e integrante da ONG Iphanaq

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